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- Convenors:
-
Paula Godinho
(Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Univ. Nova de Lisboa)
Maria Cátedra (Universidad Complutense de Madrid)
Jorge Crespo (FCSH/UNL)
- Location:
- A1.13, Reitoria/Geociências (Map 10)
- Start time:
- 11 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Pretende-se estimular o debate sobre os usos da memória e as práticas do património na construção de futuros, pela interrogação de realidades, processos e agentes que atendam à construção social da rememoração, das memórias coletivas, da emblematização, patrimonialização e mercantilização
Long Abstract:
O objetivo deste painel é estimular o debate em torno dos sentidos para os usos da memória e as práticas do património na construção de futuros. Enquanto antropólogos, lidamos longamente com memórias coletivas (Halbwachs, 1925, 1950) com classe e género, que variam conjunturalmente em escalas diversas; que podem incomodar ou dar alento, ficar retidas ou ser exibidas, ser reconstruídas e re-significadas, banidas e renegadas, utilizadas para libertar ou capturar, por períodos mais ou menos duradouros; que podem ser homogeneizadas, consensualizadas ou resgatadas por terceiros, penosas ou festivas, inventadas e retransformadas, localizadas e enquadradas em mapas conhecidos; que podem ser recuperadas ou refletir as topografias dos poderes, valorizar-se ou depreciar-se, ser introduzidas num mercado patrimonial, ou resgatadas pela aura da autenticidade. Convivemos com gente que se interroga sobre o que virá, que constrói planos, que denega o presente contínuo como uma condenação, que cede, que se enleia e negoceia, que em tempos inseguros se confia ao aleatório. Estudamos a memória porque as sociedades se ressentem duma ausência de esperança? Que relação estabelece o presentismo (Hartog, 2002), como denegação do devir, com os usos da memória? Será o passado um mero artefacto do presente (Lowenthal, 1978), que não serve para preparar o futuro? Será o futuro giratório (Jeudy, 2008)? Nos nossos trabalhos, qual a relação entre o par experiência-expectativa (Koselleck, 1979) e o «ainda não» da esperança (Bloch, 1938)? A memória preparara-nos para os tempos difíceis, num horóscopo retrospetivo (Hartog e Revel, 2001)? Questões à espera de incertezas, de réplicas, de reflexão.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Se muestra resultados de una investigación en España sobre la reutilización cultural de la dieta mediterránea para elevarla a patrimonio inmaterial desde instancias políticas, las retóricas de la elaboración territorial, la gestión del proceso de inclusión y el impacto en la vida de los ciudadanos
Paper long abstract:
En los últimos años se está generando una nueva concepción de patrimonio, inmaterial e intangible, que concede el protagonismo a las prácticas sociales y simbólicas de los actores sociales, convirtiéndose estos en sujetos indispensables en el objeto patrimonial. En 2006 entra en vigor la Convención para la Salvaguarda del Patrimonio Cultural Inmaterial de la Humanidad (PCIH) de la UNESCO, ofreciendo un nuevo marco de protección vinculante, con especial atención al protagonismo de la sociedad civil y de las comunidades directamente concernidas. La dieta mediterránea, con elementos comunes, diversos y dinámicos, aparece como objeto para la cohesión social, el diálogo y el desarrollo integral de los pueblos mediterráneos, configurándose como un espacio inmaterial de integración y de respeto a las diversidades.
El planteamiento de esta propuesta es mostrar cómo se ha reutilizado culturalmente la dieta mediterránea hasta elevarla a PCIH desde instancias políticas, el desajuste que se produce entre las instituciones y los ciudadanos y la reinterpretación de la tradición cultural y gastronómica de un territorio según criterios actuales. Mostraré las retóricas de la elaboración territorial del mediterráneo y de la dieta mediterránea, como se ha gestionado el proceso de inclusión por parte de instancias políticas de manera que se configura la dieta mediterránea como un patrimonio susceptible de ser protegido y el impacto en la vida de los ciudadanos a través de un estudio etnográfico. Los datos se han obtenido mediante trabajo de campo (incursiones intermitentes) en Madrid, Barcelona y Soria desde marzo de 2009 a septiembre de 2011.
Paper short abstract:
Pretendemos realizar un análisis comparativo de las ordenanzas municipales relativas al urbanismo realizadas en la segunda mitad del siglo XIX en Évora y Ávila para mostrar las visiones dominantes de la ciudad que incluyen y cómo condicionan la forma de vida y el futuro de las ciudades.
Paper long abstract:
Coincidiendo con la revolución industrial que tiene lugar en Europa, las ciudades inician un proceso de renovación cuyo objetivo es acabar con la "urbanización espontánea" y su sustitución por un orden urbano acorde con los nuevos tiempos. En el caso de las que poseen una larga historia, ese orden, que ha de trasladarse desde lo urbanístico al estilo de vida, incluye una "regularización" previa de los "desórdenes" arquitectónicos. Es decir, esa regularización urbanística conlleva una discusión sobre la normalización del pasado que se ha de traducir en decisiones acerca de los vestigios históricos: cuáles desaparecen, se mantienen, reforman, cambian de uso, etc. En la medida en que lo urbano se presenta como contenedor y continente de "intereses morales y materiales" de ciudadanos, las discusiones sobre edificios, tipologías urbanísticas, viales, etc., reflejan enfrentamientos sobre la forma en que se concibe la ciudad y cómo ha de vivirse en ellas.
La elaboración de ordenanzas municipales, poco estudiadas por la antropología urbana, se convierte en instrumento para diseñar las formas en que se quiere "progresar". La presente comunicación plantea una reflexión comparativa sobre las ordenanzas municipales aprobadas en materia de urbanismo durante la segunda mitad del siglo XIX por las ciudades de Évora y Ávila. Pretendemos mostrar comparativamente cómo en esa época se establecieron unos cimientos en dos ciudades -una portuguesa, otra española- que, pretendiendo ser exclusivamente urbanísticos, incluían visiones de las ciudades que han condicionado su posterior desarrollo en el siglo XX hasta llegar a ser cómo hoy día las conocemos.
Paper short abstract:
Nesta comunicação discutimos a relação entre “espaço da experiência” e “horizontes de expectativa” (Koselleck, 1979), tomando como objecto empírico as bandas de gaitas no Norte de Portugal.
Paper long abstract:
O movimento musical de revitalização e recriação da música de matriz rural, iniciado na Galiza nos finais da década de 70, entronca-se no processo de construção da sociedade democrática após o Franquismo. Neste processo a gaita-de-foles transformou-se no símbolo da música tradicional galega, substituindo o modelo de folclore rural do passado por um novo estilo musical. Para tal, contribuiu a padronização do instrumento, envolvendo artesãos e executantes, e a institucionalização do ensino da gaita em escolas oficiais e associações. As bandas de gaitas galegas nascem neste contexto, articulando interesses económicos, culturais e ideológicos convergentes e divergentes, num processo de instrumentalização da "tradição" (Hobsbawm & Ranger, 1983). As bandas de gaitas suscitaram o interesse de agentes culturais portugueses, como projecto de recuperação do património musical galaico-português e como modelo alternativo às formações musicais existentes. A diversidade das bandas portuguesas, em termos de estética (visual e musical), articula a influência cultural galega com referentes identitários resgatados da tradição local. Cada banda representa um projecto colectivo construído por pessoas, direcionado para o futuro dos grupos e para a dinamização das comunidades locais. Nesta comunicação discutimos a relação entre "espaço da experiência" e "horizontes de expectativa" (Koselleck, 1979), tomando como objecto empírico as bandas de gaitas no Norte de Portugal. Trata-se de um estudo em progresso, integrado no projecto de investigação "O celtismo e as suas repercussões na música na Galiza e no Norte de Portugal", resultante do trabalho de campo desenvolvido junto dos elementos de quatro bandas, entre 2011 e 2013.
Paper short abstract:
A proposta deste artigo é a partir da alimentação discutir práticas de memória. Para isso, parto de um estudo de caso feito em Florianópolis (Brasil) para refletir sobre aquilo que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido.
Paper long abstract:
O Morro do Mocotó em Florianópolis (SC, Brasil) foi durante os séculos XVIII e XIX morada para escravos e para os pobres que eram afastados do Centro para dar início às obras de modernização da cidade, que se estenderam ao longo do século XX. O local tornou-se conhecido no século XIX pelos pratos de mocotó, ensopado feito a partir de feijão, pé de boi e dobradinha, que os moradores faziam tanto para vender quanto para servir nas festas que eram organizadas no Morro, como as que celebravam a abolição da escravatura.
O mocotó é neste contexto uma comida que não só alimenta, mas identifica e dá nome ao Morro. É um saber transmitido de geração a geração e que ainda hoje é feito no Morro. Nesse sentido é possível pensar no mocotó enquanto uma prática de memória como define Nora. Para o historiador, a memória está associada ao cotidiano e à prática e emerge de um grupo que ela une. Ela se opõe a noção de história porque a história tenta congelar o tempo e faz dos hábitos um dever porque os oficializa.
Ricoeur também valoriza a noção de memória. Para o autor, a história se baseia no registro da memória, o que contribui para o aumento do controle do estado que legitima aquilo que deve ser lembrado. Já a memória funciona através de operações complexas que fundamentam a identidade individual, ela é princípio de unidade e de continuidade, que assegura o vínculo entre o sujeito e suas experiências.
Paper short abstract:
El objetivo de esta comunicación es analizar la interrelación entre las nociones actuales de patrimoni (patrimonio) y los principios que organizan los esquemas cognitivos de la población en un valle en el Pirineo catalán .
Paper long abstract:
El objetivo de esta comunicación es analizar la interrelación entre las nociones actuales de patrimoni y los principios que organizan los esquemas cognitivos a través de los cuales la población reproduce el universo social de un valle en el Pirineo catalán. Concretamente, pretendo documentar cómo la implantación de una economía terciaria se sustenta en la continuidad de una estructura semántica capaz de reunir experiencias y vivencias anteriores y expectativas diversas en el contexto local actual. Esto significa que para participar en la nueva economía los individuos deben legitimar, en la práctica, el sentido de una estructura semántica dada.
Considerando patrimoni un concepto histórico que abarca estados de cosas, ideas y contextos pasados, presentes y posibles se quiere mostrar cómo sus significados locales dependen del uso que de dicho concepto hace la población para reconocerse y determinarse a sí misma delimitando el sentido y orden del sistema de clasificación social. Así, las nociones de patrimoni al uso son indisociables de la continuidad de la división primaria de la población en veïns y gent de fora. Esto significa que el uso lingüístico de ambas categorías es posible en tanto se inscriben en el proceso de reproducción de los límites de la estructura semántica asimétrica que les da sentido. Pero, también que el sentido de dicha estructura es indisociable de la constitución de grupos sociales y categorías de individuos capaces de construir esquemas cognitivos para identificarse con ciertas nociones de patrimoni y legitimar sus iniciativas actuales con la experiencia de vida y los proyectos de futuro.
Paper short abstract:
Las investigaciones sobre patrimonio cultural no conllevan, en la práctica, una consideración del mismo integradora y unánime. Desde el análisis sociohistórico y antropológico analizaremos las divergencias detectadas en el seno de un colectivo profesional implicado en su recuperación y transmisión.
Paper long abstract:
El concepto de patrimonio cultural, desde su constitución en la modernidad hasta nuestros días, ha ido reformulándose y adaptándose a los nuevos usos y necesidades sociales. A pesar del creciente interés que suscitan los temas patrimoniales en nuestro tiempo, continúa vigente una percepción del patrimonio cultural imprecisa y heterogénea. Esta es la conclusión que se deriva tras la investigación antropológica realizada, que comprendió la entrevista a más de cincuenta profesionales de reconocido prestigio que desarrollan su labor en las instituciones más representativas del patrimonio cultural español. En particular, se tomó como principal grupo de estudio a los conservadores-restauradores de bienes culturales, por constituir uno de los colectivos profesionales más relevantes que intervienen en la salvaguarda, recuperación y transmisión del patrimonio cultural. Los testimonios registrados ponen de relieve una percepción del patrimonio que no deja de ser confusa y polémica. Así, frente a la visión histórica decimonónica, que relaciona el patrimonio con la herencia recibida en calidad de depositarios y con la obligación de transmitirla a las generaciones venideras, otras voces ponen el acento en la construcción sociocultural del patrimonio que es, por necesidad, dinámica, intencional y jerárquica. En ella cobran protagonismo los procesos de selección y construcción simbólica, así como conceptos clave en nuestro tiempo como son la memoria o la identidad colectivas. Frente al discurso historicista, la multiplicidad de agentes, lógicas e intereses que intervienen hoy en el proceso patrimonial al compás de los cambios introducidos por la posmodernidad, requieren la apertura de nuevos espacios de reflexión y diálogo.
Paper short abstract:
A partir do Festival Interceltique de Lorient (Bretanha) estabelecem-se parâmetros para uma análise de outros processos de festivalização inspirados no celtismo como expressão musical. Discute-se uma relação entre identidade cultural regional, preservação de memória e necessidade de esquecimento.
Paper long abstract:
O Festival Interceltique de Lorient (FIL), constituti o evento mais importante do celtismo na sua expressão musical. Realiza-se anualmente em agosto, convergindo para um centro efémero a periferia formada pelas chamadas nações celtas: Astúrias, Bretanha, Cornualha, Escócia, Galiza, Ilha de Man, Irlanda, País de Gales. O processo de festivalização iniciou-se no após-guerra (década de 1950), mobilizando o fator regionalista próximo (bretonismo) e o alargado (celtismo), manifestado na música e na indumentária, e não no neopaganismo. Ao longo das décadas de existência foi evento inspirador de outros festivais, tanto no âmbito de alguns movimentos autonómicos ibéricos, como de diásporas. Mais que preservar memória duma identidade cultural subalternizada, tratou-se de produzir esquecimento (P. Connerton) de acontecimentos então ainda recentes que traumatizaram a cidade (destruição devida aos bombardeamentos). Hoje o FIL insere-se no movimento de globalização, emitindo e recebendo fluxos culturais (A. Appadurai). O caso de Lorient serve para comparar processos de festivalização assentes no celtismo. Defende-se como função prioritária destes festivais produzir multiplicação de produtos culturais num mundo em concorrência, e menos de manter e aprofundar memória ou articular crítica civilizacional. Interroga-se a festivalização como forma de destradicionalização (García Canclini).
Paper short abstract:
Barragistas foram pessoas que participaram na construção das grandes barragens surgidas nas décadas de 1950-60. A memória produzida pelos próprios sobre o seu passado em comum assenta em três vertentes: um testemunho escrito na época, a redação posterior de lembranças e as confraternizações.
Paper long abstract:
O objetivo desta comunicação é identificar as componentes duma memória barragista, comparando-a com a de outros grandes empreendimentos públicos, tais como o bicho de obra da construção da capital Brasília (G. Lins Ribeiro). Na década de 1950-60 iniciou-se a construção das grandes barragens destinadas à eletrificação do país. O plano arrancou no Douro Internacional com a barragem de Picote (1954-58). Um grande estaleiro foi montado em Barrocal do Douro, num sítio despovoado e acidentado, onde chegaram a conviver alguns milhares de pessoas. Barragistas são pessoas que direta ou indiretamente estiveram implicadas na atividade do estaleiro, no seu abastecimento em materiais, alimentação ou diversões: engenheiros, arquitetos, operários especializados, trabalhadores indiferenciados, pessoal de serviços de apoio, familiares. Há um corpus de memória evocativo desta época da implantação da hidroeletricidade. Assenta na obra O lodo e as estrelas (1960), da autoria do então capelão da Empresa Hidroeletrica do Douro (a empresa proprietária), padre Telmo Ferraz, as posteriores confraternizações e encontros regulares ou episódicos entre os engenheiros e entre os trabalhadores, finalmente a redação posterior de lembranças publicadas em livro.
Paper short abstract:
Laranjeiras é uma cidade Brasileira que teve um momento glorioso em torno do século XIX, como principal cidade da região num modo de vida urbano. Com seu declínio, as ruínas de suas edificações permaneceram pondo força de atenção ao passado na memória coletiva do grupo que ali experiência e habita.
Paper long abstract:
A patrimonial cidade de Laranjeiras tem como principal característica a referência a um momento de opulência vivido no século XIX, imprimindo na Província de Sergipe Del Rey, hoje Estado de Sergipe, a marca de um modo de vida urbano, resultado de uma forte economia e uma expressão de cultura em efervescência. Tais fatores atraíram grande contingente de pessoas, de diversas camadas sociais. Porém, no inicio do século XX, a cidade já não sustentava tais condições e gradativamente declinava, juntamente com a evasão da população. Anos após, a cidade colapsou e não mais se ergueu, e hodiernamente vive os reflexos sociais da quebra abruta daquele momento. No entanto, Laranjeiras mantém parte do passado áureo em seu conjunto arquitetônico, especialmente em suas ruínas. Este artigo é extraído do resultado de investigação para dissertação de mestrado e propõe apresentar como as ruínas dessa cidade relacionam-se com o grupo social daquele espaço pelo viés da memória coletiva. A pesquisa argumenta que as ruínas guardam um importante auxilio na reconstituição da história imaginada da cidade, por lembranças que delas sejam evocadas e compartilhadas no grupo, e que, tais características, sendo negligenciadas pelas políticas patrimoniais de restauro, tendem a romper com a história imaginada (memória coletiva) em favor de uma história espetacularizada, assimétrica a memória partilhada no grupo. As pesquisas revelaram-nos que as narrativas de memória estão carregadas de lembranças relacionadas às ruínas, onde concluímos que, com auxílio das ruínas, os habitantes daquele espaço, recebem estímulos para apreensão do passado, ainda que não os tenham vivido.
Paper short abstract:
As adaptações e vicissitudes de um presente inquieto através do estudo de uma festa de pescadores de Setúbal. Conflito entre patrimónios (arqueológico e imaterial) num contexto de emergente exploração turística. Questionamentos futuros e alertas presentes. Apropriação, Patrimonialização e Liminaridade.
Paper long abstract:
A Festa de Nossa Senhora do Rosário de Tróia é uma celebração religiosa anual que
ocorre no mês de Agosto, sem data certa no calendário pois depende inteiramente dos
humores das marés do rio Sado. A sua organização e realização é da responsabilidade
da Paróquia de São Sebastião e dos pescadores de Setúbal, que desde sempre
encararam o território da margem esquerda do rio como seu. A caldeira de Tróia é o
lugar da Capela de Nossa Senhora de Tróia, para onde segue a romagem dos
pescadores e famílias setubalenses e no qual se realiza um gigantesco acampamento
de três oficiais. Desde a sua primeira aparição em documentos de natureza histórica
já volveram mais de trezentos anos, no entanto, é o presente que conhece maior fulgor
mediático e participação familiar. As componentes religiosas da festividade e o seu
incremento, bem como a aposta dos media e de um museu municipal nas respectivas
divulgação e legitimação da componente patrimonial, contrastam com um passado de
características mais apagadas e cujo ímpeto primordial se revestiria de contornos mais
próximos do seu lado pagão. Este recente crescimento parece remar contra um futuro
que ameaça descaracterizá-la, estando na sua origem duas razões objectivas; a
escassez de pescadores e o crescimento de um empreendimento turístico no seu
território. O estudo do seu presente liminar adivinha um futuro incerto onde a
mudança acelerada se assume como certa.
Paper short abstract:
A reconstituição duma antiga festa popular de protecção dos gados, juntando-lhe a celebração duma imagem "milagrosa", usou a religiosidade local como veículo de afirmação identitária, gerando uma nova "memória colectiva" que se questiona no processo de inventariação como "património cultural imaterial".
Paper long abstract:
Em meados da década de 50 do século passado, a freguesia de Riachos (Torres Novas) fez a reconstituição de uma antiga festa local em honra de S. Silvestre, de benção dos gados, que tinha deixado de se celebrar no início do século, como veículo de afirmação local e de exaltação bairrista; nesse processo, rapidamente se viria acentuar essa componente localista através da junção de um outro culto, de grande importância simbólica para a população, a do Senhor Jesus dos Lavradores, cuja imagem é tida popularmente como "milagrosa".
A nova festa, de celebração irregular "quando o povo quer", rapidamente gerou uma reconstrução das memórias colectivas e das representações das tradições locais, em que a ideologia bairrista se sobrepôs ao culto religioso e diluiu as diferentes posições sociais que se cruzaram, convocando proprietários rurais, população indiferenciada, a igreja católica e os presumidos herdeiros de uma confraria medieval.
No processo de preparação da candidatura da Festa da Benção do Gado a Património Cultural Imaterial, revelou-se o processo de construção das memórias colectivas que foram caucionando a retórica localista e atenuando as contradições de condição de participação e de mobilização para a Festa, revelando os processos de tecedura e sedimentação dessas representações.