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- Convenors:
-
Cristina Sá Valentim
(Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa)
Fabrício Rocha (Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra)
- Location:
- Auditório 2, Reitoria/Geociências (Map 10)
- Start time:
- 9 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Pretendemos refletir nas experiências coloniais e seus legados a partir do corpo, contemplando tanto a multiplicidade de processos de dominação como de oposição. Propõe-se interpretar materiais etnográficos específicos articulando teorias oriundas da antropologia e dos estudos pós-coloniais.
Long Abstract:
A expansão marítima europeia e os colonialismos subsequentes instituíram a naturalização da diferença como desigualdade e inferioridade para legitimar formas de dominação/exploração sobre outras pessoas e outros conhecimentos. As categorizações epistémicas/raciais/sexistas da modernidade ocidental elaboradas de forma a denominar para dominar, tiveram no corpo o lugar privilegiado do exercício do poder.
Perante a visão mecanicista cartesiana, que concebia o corpo como recetáculo da alma, a contribuição do antropólogo Marcel Mauss na década de 1930 foi decisiva nas ciências sociais e humanas para se entender o corpo enquanto um mediador de excelência entre conhecimento e experiência, indivíduo e sociedade. Sendo o corpo um veículo de expressão de intencionalidades, fronteiras, hierarquias, exclusões e inclusões sociais, no fundo, de identidades, a performatividade e a corporalidade são instrumentos de poder que tanto servem propósitos de dominação como de oposição.
Se os colonialismos e as colonialidades, e seus legados, são dimensões complexas e contraditórias alicerçadas na subjetividade, torna-se necessário problematizar os debates pós-coloniais que, na esteira de Foucault e Said, se concentram na desconstrução do discurso e da representação. Para tanto, as contribuições teóricas e metodológicas da antropologia contemporânea mostram-se pertinentes na medida em que partem de materiais etnográficos específicos numa visão crítica e comparativa que agrega experiências locais a processos globais. Isto permite inquirir as materialidades dos processos de atribuição de significado, nomeadamente a inscrição nos corpos de formas coloniais de opressão como também os mecanismos que, no plano intersubjetivo do quotidiano e através do corpo, atuam como expressões de poder contra-hegemónico.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
A dinâmica ocidental de expansão e de civilização implicou, essencialmente, relações tensas entre corpo e mente, civilização e barbárie, homem e selvagem. Destes exploramos o primeiro e último binarismo, ao investigarmos o espaço angolano como um par de opostos "preto-branco".
Paper long abstract:
O escravismo-colonialismo português enquanto sistema ideológico naturalizou diversas formas de discriminações e desigualdades, pautadas numa classificação e hierarquização de pessoas e grupos sociais. Baseado na tez, no fenótipo e na corporeidade, salvaguardando os status quo branco (positivo) e preto (negativo). Nosso ensaio versa sobre as corporeidades enquanto serie de práticas sociais portadoras de culturas, visto que toda relação com o corpo é efeito da construção social. A sociedade é aqui analisada por meio das clivagens de identificação, veiculadas na revista Caras Angola, que com base nos sistemas modelizantes de signos e nos códigos culturais geram a linguagem da angolanidade (significação, máxima de se ser angolano). É por meio da análise dos sinais diacríticos, totalidades não contínuas, símbolos e códigos que estabelecem poderosas fronteiras e disposições hierárquicas, que isolamos noções abstratas encadeadas em proposições em torno da cor da pele: a base onde se exibem dados essenciais de múltiplas ordens - biológicos, psicológicos, culturais, psicanalíticos -, fazendo do corpo a base do psiquismo individual e o lugar de troca com o outro e com a cultura. Em conjunto com o fenótipo, a cultura constitui-se num sinal facilmente reconhecível da identidade, que pelas suas funções táteis se traduz na linguagem e valor. Porém, a angolanidade enquanto etnicidade encara as etnicidades extremadas, os "tribalismos", como empecilhos à constituição de uma nação moderna.
Paper short abstract:
Esta comunicação propõe refletir sobre a relação colonial enquanto um processo construído em experiências concretas e tecido entre vários agentes. Para isso problematizam-se as práticas coloniais da 'tradição' e do 'folclore nativo' através do idioma do corpo.
Paper long abstract:
Em contextos coloniais não ocidentais, as relações que a administração colonial estabeleceu com as populações nativas passaram, em grande medida, por processos de apropriação das culturas autóctones através do levantamento etnográfico das suas expressões culturais classificadas como 'tradicionais'. Se nas metrópoles a construção moderna do Outro se fez como 'Povo', no Império essa construção passou pela classificação científica do Outro como 'Primitivo', aliando as categorias de ´raça', 'etnia' e 'tribo' à noção de 'popular' alicerçada na ideia de 'tradição' - vista como primordialidade, antiguidade e autenticidade em oposição à 'modernidade'. Esses processos ocorreram precisamente no contexto colonial português em Angola, na Lunda, no âmbito da Diamang (Companhia de Diamantes de Angola) entre as décadas de 1940 e 1970. Entre outras iniciativas, a Diamang criou as Festas Folclóricas animadas pelos Grupos Folclóricos Indígenas.
Partindo dessas experiências, e analisando materiais de arquivo entre 1940 e 1950, esta comunicação propõe identificar e problematizar as complexas formas pelas quais o corpo - o vestuário, as danças e a música - se constituiu como uma ferramenta performativa e identitária. Essa pesquisa revela também algumas das fragilidades da dominação colonial, o que permite refletir sobre a participação ativa do Outro na construção de uma autoridade colonial não absoluta e antes negociada no terreno entre vários sujeitos.
Paper short abstract:
A dança sagrada possui uma eficácia reparadora da identidade. Por meio de um estudo de caso no Ilê Axé Iyá Nassô Oká vemos que a dança inclui interpretações traduzindo novos acontecimentos, evoca os poderes sociais conquistados com a ativa participação das mulheres na formação desta comunidade.
Paper long abstract:
A dança no candomblé possui uma eficácia reparadora nas condições históricas vividas pelos descendentes de africanos no Brasil. Embora seus princípios sejam negligenciados na sociedade mais ampla, essas danças concebem um corpo consagrado ao mundo e a manifestação da divindade em um sujeito consciente de uma interrelação com a natureza para lidar com o cotidiano. Através de um estudo no Ilê Axé Iyá Nassô Oká,vemos que as danças sagradas formam um sistema de comunicação estereotipado enquanto uma dramatização acabada, mas que inclui interpretações traduzindo situações e ocorrências novas, às quais dão sentido pela aplicação de um modelo mítico. Compreendemos como as danças das Iabás, neste contexto, evocam os domínios socialmente conhecidos por simbolizar os diferentes estados ou qualidades de gênero, entre os fenômenos da vida e da morte, assim como os poderes historicamente conquistados. Queremos explorar como através da dança de candomblé e a partir de uma sólida formação em um rico sistema de valores e técnicas corporais, crianças e jovens organizam significados, sentimentos e encontram propósito. A dança é um instrumento poderoso na fundação da ideologia nacionalista ou transnacionalista, nesse sentido, refletir como se inscrevem no corpo as histórias da nação, a exotização, a feitichização; como nessas situações de ambivalência se reconfigura a identidade no processo de mercantilização.
Paper short abstract:
O discurso "a fome brasileira" opera uma redução do Outro, do suposto faminto ao seu próprio estomago; autorizando daí, a reprodução midiática de uma imagem de faminto distanciada da possibilidade de sentido político e incapaz de enfrentar a discussão das brutais desigualdades sociais no Brasil.
Paper long abstract:
O presente ensaio retoma a trajetória da pesquisadora e autora no estudo do discurso de fome no Brasil. Para tanto ela irá pressupor que as condições de produção do dito a fome brasileira termina por reduzir o Outro - o suposto faminto - ao seu próprio estomago; instituindo daí uma imagem de faminto distanciada da possibilidade de empoderar-se de um poder politico, de decisões sobre a condução da construção da cidadania brasileira. A ideia imagética de faminto descritas em palavras estaria sendo produzidas a partir dos anos 30 no paralelo da "descoberta da fome" pelo medico nutrologo Josuel de Castro e oportunizada para os dias de hoje pela mídia jornalística e televisiva. A "fome brasileira" enquanto uma categoria totalizadora logrou-se capaz de abarcar em si os possíveis conceitos de desigualdades sociais operantes no Brasil, tornando-se hegemônica no discurso politico governamental quando afirma que é a fome o mal maior em nosso país. Refletir sobre o sentido do dito "combate a fome brasileira" é o que se deseja neste ensaio de forma a sugerir pistas para a discussão sobre a violência institucional e seus desdobramentos nas relações sociais, particularmente quando se enfrenta as péssimas condições das escolas públicas das series iniciais, e os altos índices de "criminalidade" praticada por crianças e jovens no Brasil.
Palavras chave: fome brasileira; desigualdades sociais; etnografia; colonização; escola básica; violência.
Paper short abstract:
No debate sobre a afirmação identitária das nações, países caribenhos têm estabelecido novos consensos sobre o que representa a nação e as identidades culturais. Este trabalho trata da ideologia surinamesa apanjaht que fundamenta a agregação nacional pelo e no reconhecimento da diferenças culturais.
Paper long abstract:
A complexidade das sociedades caribenhas, que está expressa na heterogeneidade cultural, racial, das línguas faladas, na historicidade e experiência pós-colonial, é lugar privilegiado para a reflexão da tradição teórica da antropologia. Consideradas como fronteira aberta da antropologia cultural (TROUILOT, 1992) incitou a antropologia caribenha a construir uma perspectiva própria a fim de apreender as especificidades da região. Com predominância não-branca, dado o grande contingente de migrantes africanos escravizados e dos trabalhadores asiáticos contratados, não se constituíam como um lugar ocidental ou sociedades nativas de nenhum contato ou pré-contato, premissas sob as quais a antropologia havia construído seu corpo teórico. Denominadas sociedades de fronteira, em múltiplos sentidos, sociedades caribenhas revelam-se como lugares de liberdade, nos quais estando à margem econômica, política e social, criam sob perspectivas próprias, estratégias para articular diferenças culturais, étnicas, raciais, religiosas e políticas. Esta pesquisa, realizada no Suriname, focaliza o apanjaht, uma ideologia que fundamentou a construção de modelos para as práticas democráticas e a organização social do país legitimando, simbolicamente, a organização do poder político e a formação identitária dos diferentes grupos culturais. A ideologia apanjaht tem como princípio orientador o direito de ser e o dever de reconhecer o outro na diferença. Revela o compromisso surinamês com a democracia: agrega a diversidade sem fusioná-la e assume as tensões internas decorrentes da coexistência das diferenças. Neste sentido, este trabalho levanta a possibilidade do Suriname estar se constituindo como uma nação plural imaginada, na qual a agregação nacional se legitima pelo e no reconhecimento das diferenças culturais.
Paper short abstract:
Partindo do corpo de doentes (ou ex-doentes) com lepra, pretende-se traçar uma etnografia de uma leprosaria na Guiné-Bissau, herdeira de uma preocupação colonial de confinar a doença. Nesse sentido, pretende-se entrecruzar a etnografia com a história, colonial e pós-colonial, deste espaço biomédico.
Paper long abstract:
A Leprosaria de Cumura é o ponto de confluência de múltiplas estórias de vida traçadas pela Lepra. Um espaço biomédico de referência na África Ocidental na actualidade, cuja origem remonta ao tempo colonial da Guiné Portuguesa. A lepra emergiu como uma preocupação para a administração colonial, sendo criado um hospital para receber e tratar doentes, na zona de Cumura, a 14 km de Bissau. A decisão da sua criação surge, em 1945, na sequência das comemorações do V Centenário da descoberta da Guiné pelos portugueses. Inicialmente um espaço de reclusão e confinamento do Outro para tratamento sob autoridade do Estado, passa depois a existir dentro do contexto assistência de saúde missionária, a cargo de frades Franciscanos, da Província de Veneza, em ambos os casos enquadrada numa biopolítica e estratégia de contenção da doença. A história desta instituição, ilustrada pela construção de uma etnografia, cruza-se com a Aldeia que acolhe os Ex-Leprosos, construída nas imediações da leprosaria, para acolher os doentes impossibilitados de se reintegrarem nas suas aldeias/ famílias. A Aldeia dos Ex-Doentes, assegura a continuidade na protecção perante o estigma social, ou proporciona o ponto para ancorar a vida e viver na protecção da missão franciscana, na sequência das deformidades e mutilações. Cumura, outrora o local maldito, o local infecto, o espaço do confinamento da doença, é hoje um espaço aberto às velhas e novas lepras (sida e tuberculose), funcionando como um importante elemento de apoio no débil sistema de saúde da Guiné-Bissau.
Paper short abstract:
Uma abordagem das identidades de género no seu carácter performativo, através da 'reconstrução' do contexto espaço-temporal que esteve na origem da criação da produtora 'Cineground', fundada em Portugal após a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Paper long abstract:
Problemática:
Filmes: produtores de identidade?
Relação entre teatralidade e expressão das identidades LGBT
- Revelação/produção de conhecimento sobre género na sociedade portuguesa pós-25 de Abril
I Género:
a)Teoria de género universal/ contexto sociopolítico nacional
b)Género institucional/Biopolítica/ Categorização - normatividade/ naturalização do género é um dos motores de organização das sociedades humanas
c)Identidades LGBT- 'disruptivas' - identidade como lugar de acção politica
II Performance:
a)Teoria Queer e 'performatividade de género' - discurso de poder pois define os limites da 'normalidade' e da 'alteridade' - género 'faz-se' e 'aprende-se' (Judith Butler)
b) Transformismo/Travesti /cross-dressing - obriga o espectador a uma 'reinterpretação da realidade'
c) Performance no meio artístico: produção de identidades resistentes à normalização/ afirmação da diferença cultural/ protesto social - motivação artística/ lúdica com resultado político
III Espacialidade e temporalidade
a)Teatro e cinema - 'fórum público' - 'performance torna-se no meio para a discussão de dilemas morais e para a mudança cultural e social' - teatro travesti desafia a 'liminaridade social' (Judith Halberstam)
Temporalidade - ' vivência' de identidades que não obedece à organização do 'tempo capitalista' (lógica de produção/ reprodução) - 'geografias de resistência'
Metodologia:
Objecto de estudo: Filmes produzidos no âmbito da CineGround (1975-1978)
a)Visualização de filmes e consulta de materiais da imprensa (Arquivo Queer Lisboa / ANIM - Cinemateca Portuguesa)
b)Entrevista com intervenientes por foto-elicitação - proposta de visualização conjunta dos filmes com realizador e actores (evocação de memória e narrativa)
c)Entrevista com personalidades do meio artístico da época (cinema, teatro): balanço sobre a ´vivência' das identidades LGBT na sociedade portuguesa de 'então e agora'
Paper short abstract:
En un contexto de desigualdad y discriminación étnica, las distinciones entre “buenos” y “malos” individuos tienden a establecer una frontera moral dentro del grupo estigmatizado. Es interesante preguntarse sobre cómo este discurso es interiorizado por los sujetos estigmatizados.
Paper long abstract:
Francia ha sido un país receptor de inmigración durante décadas, pero hasta muy recientemente evitó cualquier política de discriminación positiva. En su lugar se establecieron diversos instrumentos para proveer de recursos suplementarios a las zonas urbanas más desfavorecidas (Wiewiorka y Ohana 2001, Donzelot 2006).
Sin embargo, el último gobierno conservador (2007-2012) promovió un conjunto de iniciativas de discriminación positiva hacia las minorías raciales y los habitantes de los barrios de alojamientos sociales. Estas medidas, dirigidas a premiar "la excelencia", han tenido un número muy reducido de beneficiarios pero importantes funciones simbólicas. En un contexto de desigualdad y discriminación racial (Fassin 2009), la distinción entre "buenos" y "malos" permitió trazar una frontera moral dentro del grupo estigmatizado. Sus miembros fueron así obligados a demostrar su condición de buenos ciudadanos para evitar ser identificados con el estereotipo.
El trabajo de campo etnográfico permite conocer mejor la internalización de este discurso por jóvenes de los barrios de alojamientos sociales y de origen no europeo. Ante las llamadas del gobierno a los jóvenes a "evitar el victimismo", muchos jóvenes pertenecientes al grupo estigmatizado tendían a rechazar a aquellos que simbolizan mejor a sus ojos el estereotipo racial. Estas "estrategias de distinción" podían apreciarse en sus conversaciones cotidianas.
REFERENCIAS
Fassin, Didier y Fassin, Eric (dir.) (2009) : De la question sociale à la question raciale? París : La Découverte.
Donzelot, Jacques (2006): Quand la ville se défait. París : Editions du Seuil.
Wiewiorka, Michel (dir.) (2001): La différence culturelle. Une reformulation des débats, Paris: Balland.