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- Convenor:
-
Carla Susana Alem Abrantes
(Unilab - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira)
- Discussant:
-
Cristiana Bastos
(Universidade de Lisboa)
- Location:
- Sala 1, P 4 (Map 26)
- Start time:
- 10 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Este painel abre espaço para discussão das diferentes experiências do fazer antropológico em África e Ásia no período colonial com o objetivo de contribuir de forma crítica para uma reflexão sobre o papel da antropologia nos projetos coloniais europeus.
Long Abstract:
A partir da crítica pós-colonial, muitos vêm sendo os esforços de se questionar as conexões estabelecidas entre a antropologia como um conhecimento produzido sobre populações coloniais e o quadro mais amplo da administração e do domínio político. Recentemente, novos estudos vêm reforçando a importância de se conhecer mais a fundo essa realidade histórica, especialmente no que se refere aos efeitos das narrativas produzidas por antropólogos para as populações locais e para a manutenção de grupos em posições de poder. Que alternativas eram utilizadas para representar as populações dos distintos territórios coloniais e em que medida estas formas de nominação variaram ao longo do tempo? Que conexões podem ser mapeadas entre essas descrições etnográficas e a construção de um aparato colonial? Esta reflexão permite viabilizar novas possibilidades de produzir conhecimentos que contemplem uma análise crítica do lugar da antropologia nos esforços mais amplos de transformação social. Este painel pretende, assim, ser um espaço de troca e discussão das diferentes experiências do fazer antropológico inseridas nos projetos coloniais para a África e Ásia.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Entre 1945 e 1946 Mendes Correia esteve na Guiné Portuguesa, acompanhado por Amílcar de Magalhães Mateus, para preparar uma missão antropológica. A visita permitiu desmitificar algumas das ideias preconcebidas de Mendes Correia e suscitou nele a necessidade de desenvolver novos estudos.
Paper long abstract:
Entre 1945 e 1946 o antropólogo Mendes Correia, principal mentor da Escola de Antropologia do Porto, esteve na então Guiné Portuguesa acompanhado pelo seu assistente, Amílcar de Magalhães Mateus, para fazer uma primeira aproximação ao território e preparar a missão antropológica a ele dirigida nos anos seguintes.
O seu roteiro, e os objectivos que nele procurou concretizar, denotam os vários interesses científicos de Mendes Correia, mas também o modo como procurava produzir conhecimento - através do estabelecimento de uma rede de contactos entre cientistas internacionais e informantes locais. Tal modus operandi, presente aliás em outros países colonizadores, fornece-nos material para reflectir acerca do modo como a antropologia esteve articulada com o projecto colonial português, nomeadamente através da criação de missões antropológicas direccionadas para os territórios de além-mar administrados pelo país.
Esta visita ao terreno guineense permitiu ainda desmitificar algumas das ideias preconcebidas de Mendes Correia, nomeadamente as relativas à classificação racial de grupos humanos, e suscitou nele a necessidade de desenvolver novos campos de estudo ainda incipientes, como as línguas nativas e os sistemas de numeração.
Paper short abstract:
Na Índia independente, as estratégias de reorganização do real social partiram de muitos dos pressupostos representacionais implantados pela administração colonial britânica. Algumas categorizações servem ainda de base a censos e critérios de discriminação constitucional de grupos populacionais.
Paper long abstract:
Na Índia independente, as estratégias de reorganização do real social da "nova" nação partiram de muitos dos pressupostos representacionais eficientemente implantados pela administração colonial britânica. O método que serviu à eficácia de uma tal implantação socorreu-se de dois recursos essenciais. Por um lado, de um corpo de técnicas e práticas disciplinares para validação do conhecimento, proporcionado por intelectuais e profissionais, em relação simbiótica de legitimação do poder vigente, em que antropólogos, "orientalistas" e "anglicistas", assumiram um papel preponderante. Por outro lado, da sua operacionalização no terreno, materializando o exercício de poder sobre este imenso objecto. A operacionalização foi efectuada pela objectificação, nomeação e hierarquização de grupos populacionais, através de listagens públicas, censos e sua imposição jurídica; através da objectificação de categorias distintivas com aplicação de técnicas antropométricas e teorias racializantes; até à criminalização de largas centenas de grupos, objectivados e nomeados como castas e tribos determinadas, e ao seu encarceramento em reformatórios.
Na actualidade, algumas destas categorizações servem de base a recenseamentos e suportam o estabelecimento de critérios de discriminação constitucional positiva de grupos em Scheduled Castes, Scheduled Tribes e Other Backward Classes. Antropólogos da Anthropological Survey of India são assim enviados para o terreno no sentido de avaliarem a legitimidade das reivindicações de pertença a SC, ST ou OBC de determinados grupos. À sua solicitação, estes antropólogos procuram a validação de traços identitários "primitivos", de "cultura distintiva", "isolamento geográfico", "timidez ao contacto com culturas dominantes" ou "atavismo" nos seus corpos, vestuário, língua, hábitos, ocupações e práticas religiosas.
Paper short abstract:
A partir da análise dos arquivos portugueses, esta comunicação considera criticamente o legado da antropologia colonial portuguesa, explorando a forma como um grupo de timorenses foi utilizado para a constituição de uma narrativa imperial que ocultava a complexidade local das relações coloniais
Paper long abstract:
Esta comunicação terá como intuito analisar as representações de um grupo de timorenses da região de Ainaro, que vieram a Portugal no contexto de exposições coloniais de natureza antropológica, durante o período do Estado Novo. O objectivo é, por um lado, mostrar o papel que a circulação e representação deste grupo tiveram na constituição e consolidação do império colonial português e, por outro, discutir a forma como a aliança estabelecida entre este grupo e o governo colonial, em Timor, consolidou o seu estatuto local.
O ponto de partida serão as representações de Timor elaboradas para a Exposição Colonial do Porto de 1934 e amplamente divulgadas posteriormente. Ao analisar os textos, as fotografias e a exposição de objectos e seres humanos organizados para o evento é possível identificar a forma como este grupo de Ainaro, enquanto representante dos povos de Timor, foi utilizado para ilustrar o sentido ideológico da missão imperial portuguesa. No entanto, uma leitura mais cuidada dos arquivos permite identificar paradoxos nessa narrativa de carácter essencialmente totalizante.
Complementando pesquisa arquivística com trabalho etnográfico em Timor Leste, este trabalho propõe identificar os desafios que se colocaram à implementação da administração colonial em Timor e a complexidade das relações estabelecidas localmente com diferentes grupos timorenses. É neste contexto relacional que se pode entender as motivações que estiveram por detrás da escolha de um grupo de Ainaro para representar os povos de Timor e os benefícios que daí advieram para a administração colonial portuguesa e para este grupo singular de timorenses.
Paper short abstract:
Administradores, médicos, militares e viajantes produziram descrições para-etnográficas, enquanto outros actores coloniais deixaram um repertório oral de preceitos e preconceitos que alimentou etnografias. Explorando estas fronteiras, discutiremos as relações entre saberes colonais e antropologia
Paper long abstract:
Etnografias amadoras, usos profissionais: Administradores, médicos, militares e viajantes dados à escrita produziram inúmeras descrições de povos e costumes em latitudes e línguas diversas, deixando-nos uma para-antropologia reconhecida como tal. Muitos outros, menos dados à escrita que ao comércio, caça, tráfico, aventuras e outras actividades em cenários coloniais, deixaram também um repertório de saberes, receitas, preceitos e preconceitos àcerca dos grupos com quem interagiam, fazendo de fonte a terceiros que daí recortaram elementos para a sua escrita-- acrescentando assim mais uma camada ao complexo combinado de estereotipos e análises objectivadas que constitui a massa d saber etnográfico. Nesta apresentação exploraremos as fronteiras entre estes vários regimes de saber e discutiremos as suas relações com a antropologia e os antropólogos em diversos momentos da disciplina.
Paper short abstract:
As narrativas etnográficas utilizadas para a descrição de populações angolanas nos anos 1950 e 1960 são apresentadas com o objetivo de estabelecer conexões do saber antropológico produzido em uma instituição de ensino e pesquisa em Lisboa e os projetos coloniais definidos para Angola.
Paper long abstract:
Nesta comunicação, apresento a escrita da história e hábitos das populações angolanas por alunos do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (ISEU) e o modo como ganhou existência e se constituiu como discurso significativo para os agentes comprometidos em um campo social no contexto de elaboração dos projetos coloniais dos anos 1950/1960. Com os movimentos de independência e os desdobramentos da II Guerra Mundial, novas formas de nominação das populações emergiram deixando para trás as caracterizações próprias das primeiras décadas do Estado Novo. Considero tais narrativas como produtos de um fazer etnográfico que não esteve isolado, mas antes conectado à ideia de um Estado que se pretendia legítimo. As etnografias conformaram elos com uma engrenagem mais ampla que concatenou variados saberes no interior de redes de relações sociais, contribuindo para produzir representações sobre Angola, sua população e os modos de governá-la.