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- Convenors:
-
Rubens Adorno
(University of São Paulo)
Luís Fernandes (Fac Psicologia e Ciência das Educação U.P.)
- Location:
- Sala 3, Ciências Veterinárias (Map 30)
- Start time:
- 9 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
A relação entre antropologia e saúde pública é histórica. A proposta desse painel é discutir as diferentes interfaces desse campo tomando - o como uma construção biopolítica que esta sempre a dialogar com a antropologia.
Long Abstract:
A relação entre antropologia e o campo da Saúde Pública, tem em sua história um conjunto amplo de questões teóricas, temáticas e metodológicas, que dão conta desde relação entre os limites do humano, à concepção de sanidade, com temas tais como raça, sexo, nação, família, espécie, individuo. Em outros sítios focalizaram-se questões compreensivas das diferenças e da experiência humana, na interface da construção da subjetividade, do corpo e da doença. Ou seja, nesse campo biopolítico por excelência emergem as questões clássicas de natureza e cultura, sexualidades e reprodução às propostas e limites de intervenção sobre a vida contemporaneamente expressas nas chamadas políticas da vida.
Por outro lado assim como na antropologia, assistimos hoje uma crise no próprio campo das representações sobre saúde que dão conta desde as diversas práticas que tem como alvo populações ditas vulneráveis ou marginalizadas; as políticas de redução do estado de bem-estar social e o contraponto da saúde como um campo no qual se intensificam as práticas de intervenção corporal, como do consumo de medicamentos e psicoativos no domínio da transformação do corpo, das emoções e da subjetividade.
E por fim ocorre a necessidade de reflexão sobre os próprios estudos antropológicos e etnográficos que são utilizados nas pesquisas na área da saúde, como ilustração do que vem sendo chamado de "estudos qualitativos" complementares e portanto legitimadores da produção de uma ciência baseada em critérios quase que puramente estatístico.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
This presentation focus on the role of risk policies and collective narratives in the making of biopolitics of reproduction in Portugal.
Paper long abstract:
In the past fifty years, pregnancy has gained a lot of interest in social sciences in correspondence with the surge of the body as systematic category of analysis. The pregnant body seems to become a hyper-body on which simultaneously operate biopolitics, economic forces and social imaginaries, all engaged in the creation of a new, dynamic ethic of reproduction.
This paper proposes a reflection on public health management of pregnancy and its medicalisation in Portugal, focusing on a distinctive, shared narrative collected during my research on lived experiences of pregnancy. It is a discourse that portrays the health history of a country that in fifty years has passed from one of the highest to the lowest infant and maternal mortality rate in the European continent, and one of the lowest in the world nowadays. I argue that, through this collective narrative of success, biopolitics of reproduction find in Portugal a fertile ground where to root and sustain what Davis-Floyd (1993) has called the technocratic model of birth, a ritualized ensemble of obstetrical practices aimed at transforming the birthing woman and socializing the newborn into a society of high technological intervention.
Paper short abstract:
Por um lado, saúde e doença são assuntos com os quais todas as pessoas se confrontam , por outro, são entendidos como sendo assuntos de especialistas. Nesta comunicação propõe-se que olhemos para as forças envolvidas na definição da saúde e da doença objectivada pelos enfermeiros nas suas práticas.
Paper long abstract:
No passado, as investigações antropológicas salientavam a dimensão semiótica das representações da saúde e da doença e centravam a atenção no seu como (Hall, 1997). Valorizava-se as dimensões empírica (William Rivers), cognitiva (Benjamin Paul) e interpretativa (entre outros, Arthur Kleinman e François Laplantine) da saúde e da doença, focando-se a atenção nas práticas e representações leigas. Na actualidade, a atenção vira-se para os efeitos das representações (Hall, 1997), entendendo-se estas, no caso da saúde e da doença, como mistificações das relações de poder envolvidas na negociação biopolítica (Fassin, 2000), tal como apresentada na filosofia de Michel Foucault (2004). Hoje, a saúde e a doença tendem a ser compreendidas no contacto da cultura biomédica (Herzlich, 2005), assumindo-se como assuntos de especialistas, o que justifica trazer os profissionais de saúde para o centro da análise. Estes, através de "discursos e dispositivos pretendem oferecer soluções técnicas a problemas concretos, independentemente de qualquer posição ideológica" (Fassin, 2000). Esta pretensão de neutralidade ideológica é, porém, contrariada pela monopolização do poder de definição do normal e do patológico por parte das instituições médicas (Carapinheiro, 1986). Os efeitos dessa definição são revelados em primeira mão pelas práticas dos profissionais de saúde. Nesta comunicação propõe-se uma análise das representações da saúde e da doença objectivadas nas práticas dos enfermeiros focando-se a atenção nas forças envolvidas na sua definição. Em última análise, pretende-se discutir sobre o espaço ocupado pela formação do tipo fenomenológico nos curricula dos enfermeiros.
Paper short abstract:
Nesta comunicação analisam-se barreiras/limitações no cumprimento do direito aos cuidados de saúde por parte de indivíduos em situação de sem-teto (Coimbra). Contrasta-se, neste âmbito, a intervenção preconizada e a sua concretização, por parte de Serviços de saúde pública/Associações/ONG's/IPSS's.
Paper long abstract:
Esta comunicação subordina-se à análise das especificidades da intervenção no âmbito da promoção da saúde, preconizada e desenvolvida, no Concelho de Coimbra, junto de indivíduos em situação de sem-abrigo por instituições públicas de saúde, assim como por Associações/ONG/IPSS. Examinam-se, a partir das informações recolhidas no âmbito da participação em 100 giros noturnos (30 meses) barreiras sentidas no acesso e usufruto de serviços de saúde, contrastando a oferta prevista/concretizada pelas entidades com as necessidades/expectativas expressas pelos próprios. Procede-se, em seguida, à sinalização das singularidades inerentes à situação de sem-teto e das suas múltiplas implicações no que concerne a manutenção e promoção da saúde (indivíduos/comunidades), seguindo-se a revisão de indicadores que atestam uma relação de fragilidade e irregularidade entre estes e os serviços. Apontam-se, neste ponto, evidências concretas das barreiras sentidas (e.g., discriminação no usufruto de cuidados, impossibilidade de acesso a estruturas/serviços). Neste âmbito, sistematizam-se, a partir da sinopse de situações reais, as metodologias mais frequentemente utilizadas pelos organismos/instituições de saúde junto desta população, destacando as suas principais potencialidades e limitações. Termina-se com a apresentação das linhas globais que sustentam uma proposta de intervenção especializada, passível de implementação junto de pessoas em situação de sem-teto.
Paper short abstract:
Apresentamos a pesquisa realizada em Belo Horizonte, Brasil, seu objetivo é analisar os significados simbólicos do uso abusivo de crack entre os pacientes em tratamento e as respostas terapêuticas das instituições de saúde pública. Foi utilizado o método qualitativo, com entrevistas em profundidade.
Paper long abstract:
No Brasil, no campo da saúde publica o consumo de drogas, especialmente as ilícitas, de maneira especial o crack, tem se transformado em um desafio constante, especialmente quando se leva em conta os programas terapêuticos, ancorados na perspectiva médica de abstinência e centrados no sujeito e na substancia psicoativas por ele utilizada, descolados de um contexto social mais amplo. A relação dos indivíduos com as referidas substâncias não é uma ação separada, ao contrario é constituída por um conjunto de atos e de interações que podem ser modificadas no decorrer do processo. Igualmente as construções subjetivas e sociais, as percepções e as valorações são decorrentes da tríade sujeito-contexto-substância e só por meio dela é possível compreender esse fenômeno contemporâneo.
A mídia tem um papel importante na criação de imagens estereotipadas sobre o usuário de crack relacionando-o aos grupos perigosos, residentes nas periferias da cidade, negros e desocupados, Essa imagem contribui para as reações preconceituosas da sociedade e para as respostas institucionais baseadas em medidas moralistas de controle do corpo do outro, de suas escolhas e do prazer. Nesse processo, o paciente é excluído, deslocado do lugar do sujeito e marginalizado. Em decorrências, as politicas públicas e as medidas terapêuticas se tornam ineficazes contribuindo para o desencanto dos profissionais e para a busca interminável por uma poção mágica por parte dos familiares e dos pacientes. Com efeito, observam-se repetidas internações, descrença nas instituições e nos profissionais, a discriminação social, o preconceito e o medo disseminado nos centros urbanos.
Paper short abstract:
Esta pesquisa se debruça sobre as estratégias de um município da região metropolitana de São Paulo (Brasil) para os cuidados de usuários de psicoativos. Apresento o Consultório de Rua, um arranjo assistencial recente de intervenção aos cenários de uso de crack.
Paper long abstract:
Com o aumento do consumo do crack no Brasil, a partir dos anos 2000, acelerou-se a implantação de políticas de saúde específicas para usuários de drogas. Em época de diferentes (e até paradoxais) tentativas de gestões estatais, o consumo dos psicoativos está inscrito atualmente no debate público a um só tempo como objeto de política sanitária, da qual desdobram diretrizes para a prevenção e o tratamento das drogas; objeto de cuidado, que estimula a elaboração de novos arranjos assistenciais; e, objeto de repressão, refreando o consumo dos psicoativos em lugares públicos. Na conjuntura do surgimento de uma nova questão de saúde pública, esta pesquisa se debruça sobre as estratégias do município de São Bernardo do Campo (SP) para os cuidados de usuários de drogas. A experiência municipal importa ao cenário das políticas e, neste caso, à Antropologia, à medida que anuncia dentro de um modelo tecnoassistencial, conhecido como rede, o Consultório de Rua - um arranjo assistencial recente de intervenção aos cenários de uso dos psicoativos ilegais. A inovação trazida por este arranjo convém em termos analíticos por diversas razões: a) trata-se de um modo peculiar do Estado entrar em contato com uma população marginalizada; b) realiza a intermediação entre os usuários em situação de rua e os equipamentos de saúde.
Paper short abstract:
Esta proposta discutirá um dos fatos observados na etnografia: Usuários de crack e espaços de uso: agenciamentos e relações de trocas em territórios urbanos (CNPQ; São Paulo/Brasil), que verificou a constituição e desenvolvimento de um comércio de mercadorias variadas, feito pelos usuários de crack.
Paper long abstract:
A presente proposta visa analisar um dos eventos observados na etnografia: "Usuários de crack e espaços de uso: agenciamentos e relações de trocas em territórios urbanos" (CNPQ - Brasil), em que se pôde verificar a constituição e desenvolvimento de um comércio de mercadorias variadas, feito pelos usuários de crack.
O termo "Zumbis/Zombies" foi largamente empregado nos últimos anos para designar os frequentadores de um espaço do centro da cidade de São Paulo, conhecido como cracolândia. Diferentemente dos termos "cracolândia" e "nóia" que, em um processo reflexivo se tornaram termos nativos e de domínio público, "Zumbis" é utilizado por policiais e políticos para legitimar políticas ou, mais propriamente, ações de intervenção no local justificando assim a interdição dos direitos das pessoas que, por serem "mortas-vivas", como o nome sugere em uma de suas acepções, não têm autonomia para decidir sobre a sua própria vida.
A análise terá por objetivo explicitar e discutir como o comércio desenvolvido pelos usuários teve um papel importante no desenvolvimento e manutenção de estratégias de uso e controle de uso do crack, de cuidados com o corpo e a saúde bem como de convívio com não usuários. Buscará resgatar pesquisas que tiveram a contribuição da etnografia para compreender os significados e situações vivenciados pelas populações chamadas "vulneráveis" e que procuraram situar como elemento de análise às relações com as ações do estado, com destaque para a questão da saúde e do cuidado de si, trabalhando com as situações e o ponto de vista dos sujeitos pesquisados.
Paper short abstract:
Baseado em uma etnografia realizada em bairros da periferia de São Paulo nos anos de 2009, 2010 e 2011, este artigo discute a gestão da violência nas periferias de São Paulo, ao buscar examinar como o "crime" e a "violência" têm sido abordados pela área de Saúde Pública no Brasil contemporâneo
Paper long abstract:
Baseado em uma etnografia realizada em bairros da periferia da região metropolitana de São Paulo nos anos de 2009, 2010 e 2011, este artigo discute a gestão da violência nas periferias de São Paulo no fim da primeira década do século XXI. Focaliza-se o trajeto de um jovem educador de um bairro da periferia da cidade de São Paulo: em primeiro lugar, contextualizando o cenário social e político em que ele cresceu; em seguida, acompanhando tramas cotidianas de sua interação com outros jovens moradores do seu bairro e de sua inserção na política pública voltada para jovens em conflito com a lei, o sistema socioeducativo. Ao seguir o trajeto e destacar a narrativa do educador, o texto revela tensões, negociações e transações entre as diferentes vozes e posições que compõem o espectro político em que os jovens das periferias de São Paulo circulam; e a assunção da vida como o valor que permite a construção de pontes simbólicas e existenciais entre jovens que não querem ceder a um nem a outro dos lados do "muro" da "guerra particular" entre políticas de saúde pública e o chamado "crime-organizado". A narrativa do educador ajuda a complexificar o debate público sobre "crime" e "violência" em políticas de Saúde Pública no Brasil contemporâneo.
Trabalho financiado pela CAPES, Brasil.
Paper short abstract:
A partir de uma abordagem antropológica e, evidenciando as tensões éticas entre Saúde Pública e Antropologia, apresenta-se uma história de vida de um jovem de 25 anos que tentou suicídio duas vezes por motivos ligados à sua identidade de gênero e orientação sexual.
Paper long abstract:
Estudos centralizam a problemática do suicídio de jovens não-heterossexuais numa origem
homofóbica - porque a homofobia resulta de um arquétipo normalizador dos sexos, gêneros
e sexualidades que, em seu ardil, subjaz uma redução pautada em um binarismo homo/
heterossexual em que estão recônditos os discursos políticos tanto de movimentos sociais
quanto daqueles institucionalizados pelo Estado. Nesse entremeio, pode estar a raiz de um
sofrimento social.
Por outro lado, enquanto fundamento, as metodologias da Etnografia possibilitam
uma problematização interseccional que proporcionam uma análise, ipso facto, multi/
interdisciplinar de tal sofrimento social. Especificamente, tomando por base uma abordagem
etnográfica de história de vida, o objetivo desta comunicação é apresentar um caso
circunscrito à problemática - em que pesem os conceitos apresentados anteriormente -, e
discutir os possíveis desdobramentos éticos de uma pesquisa que se propõe fundamentada em
bases da Antropologia e seus vieses de Saúde Pública, evidenciando uma tensão entre as duas
áreas de conhecimento.
Nosso sujeito etnográfico é um jovem de 25 anos que se identifica como homossexual, que já
tentou suicídio duas vezes, atribuindo como causa, primordialmente, questões ligadas à sua
orientação, identidade e expressão sexuais.
Tal discussão se encontra em um vórtice de tensões epistemológicas entre as subjetividades
pertinentes às teorias de gênero (masculinidades e teoria queer, em especial), enquanto crítica
de uma normalização do sexo, da identidade e das sexualidades, subjacentes em discussões
antropológicas; e a objetividade de um tema como o suicídio na Saúde Pública - que, per se, já
erige uma tensão da ética enquanto um de seus campos de normalização.