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- Convenors:
-
Antónia Pedroso de Lima
(ISCTE-IUL CRIA)
Catarina Frois (ISCTE-IUL)
- Discussant:
-
Susana Narotzky
(Universitat de Barcelona)
- Location:
- Sala 1, P 4 (Map 26)
- Start time:
- 9 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Face à crise sem precedentes que estão a passar os países 'periféricos' da Europa como se estão a adaptar as pessoas, nas suas vidas quotidianas, a este novo contexto. Que alternativas se estão a constituir? E em que medida alteram modos de vida e afectam o sistema numa perspectiva mais global?
Long Abstract:
Os chamados países 'periféricos' da Europa estão a passar por uma crise sem precedentes. A estagnação económica e contenção dos serviços de bem-estar têm acelerado um processo de empobrecimento e espoliação de uma parte significativa da população. No entanto, o que sabemos sobre as maneiras em que as pessoas se estão a adaptar, nas suas vidas quotidianas, a este novo contexto? Como é que os grupos subalternos estão a enfrentar e a fazer sentido do fato de que a promessa de prosperidade individual se estar a desvanecer? Este painel convida os antropólogos para analisar as transformações actuais nos discursos e práticas de subsistência para pensar as mudanças mais amplas nas macroestruturas económicas e políticas.
Convidamos a apresentação de comunicações que explorem a actual conjuntura nos seguintes ângulos: de que maneira práticas de subsistência observáveis diferem das expectativas, realizadas no passado? Que tipos de contradições se produzem e como é que as pessoas lhes atribuem sentido? Como é que essas práticas se afastam do modelo neoliberal e em que medida desafiam as análises gerais da crise? Será que essas mudanças conduzem a formas de contestação política? Que alternativas se estão a constituir? E em que medida alteram modos de vida e afectam o sistema numa perspectiva mais global?
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Evitando uma visão harmoniosa dos sistemas sociais de cuidado, esta comunicação debate o modo como as pessoas se integram em sistemas formais e informais de cuidado e como estas estratégias são eficazes para sobreviver num sistema em falência onde o cuidado se torna um factor de sustentabilidade.
Paper long abstract:
As ciências sociais têm utilizado o conceito de cuidado para abordar o tratamento de situações de privação por vias que incluem a provisão do Estado aos cidadãos. Porém, na existência relacional quotidiana, cuidado é referido para descrever processos e sentimentos entre pessoas que cuidam umas das outras em várias dimensões da vida social e que não se encontram necessariamente em situações de carência. Nesta comunicação irei discutir diferentes dimensões do cuidado. Portugal atravessa uma situação de crise económica e social (índices crescentes de desemprego, baixos rendimentos familiares, população imigrante significativa, população idosa) que aumenta a pressão sobre os serviços sociais. Para fazer face à actual falência dos Estados Previdência e confrontadas com a diminuição da capacidade dos sistemas estatais de cuidado continuarem a providenciar este apoio, as pessoas (re)tomam vias informais para lidar com situações de carência. Este "estado de emergência" estimula a criatividade e a inovação, não só na esfera económica mas também social e moral. A iniciativa pessoal, imbuída da moralidade do "cuidado" e do bem comum, torna-se central e factor de sustentabilidade tanto a nível económico (provendo a pessoas necessitadas) como emocional (bem-estar). A visão não economicista que a antropologia nos dá sobre o cuidado põe a descoberto formas de socialidade que instigam a repensar as políticas públicas. As relações interpessoais e as relações motivadas por sentimentos e ideais de bem geral são portanto centrais para a reprodução do futuro do sistema social mundial de mercado económico global em que vivemos.
Paper short abstract:
Propomos apresentar o movimento social das ecoaldeias explorando as suas dimensões globais e locais e argumentando que, em contexto de crises (ambiental, politica e económica),o cuidado é transversal ao design e experimentação de modelos de vida resilientes e sustentáveis para si e para o mundo.
Paper long abstract:
O movimento social das ecoaldeias tem-se expandido um pouco por todo o mundo, principalmente num contexto de crise(s) em que as pessoas procuram alternativas profissionais, de autossuficiência e/ou de intervenção política. A apresentação proposta baseia-se numa investigação antropológica realizada entre 2010 e 2012, que se materializou na tese de mestrado "Ecoaldeias: construindo alternativas" e está integrada no projeto financiado pela FCT "O cuidado como fator de sustentabilidade". Este movimento foi analisado tendo como casos empíricos de referência a Global Ecovillage Network (rede transnacional constituída por ecoaldeias), e as ecoaldeias Tamera (ecoaldeia rural) e Los Angeles Ecovillage (ecoaldeia urbana).
Através destes exemplos argumenta-se que as ecoaldeias são contextos onde os níveis local e global estão em contante articulação e se potenciam mutuamente. Apesar da partilha de valores, cada ecoaldeia tem a sua própria idiossincrasia por depender de fatores económicos, sociais, culturais, políticos e ambientais locais. Não deve ser considerado um movimento back to the roots pelo uso que faz dos sistemas comunicacionais e informacionais e pelo recurso e desenvolvimento de novas tecnologias e inovações na área das energias renováveis, água e solo.
Argumentamos ainda que as ecoaldeias se constroem enquanto espaços de cuidado para com o ser humano, o mundo e o Ambiente. Algumas das suas práticas e propostas podem ser entendidas como formas de inovação social, estando em vários aspetos na vanguarda da mudança social. Assim, podem funcionar como laboratórios, experimentando possibilidades para florescer dentro dos limites ecológicos e de superação das crises económicas, sociais, ambientais em que vivemos.
Paper short abstract:
Uma nova crise criou um novo perfil de emigrante, diferente entre si pelas suas qualificações, e diferente dos grandes fluxos migratórios dos anos 60 e 70.Os novos emigrantes qualificados trazem uma nova dimensão e abrangência aos pressupostos da emigração e a sua adaptação face ao contexto económico do país.
Paper long abstract:
O novo contexto da crise social e económica, veio reavivar os grandes fluxos migratórios de Portugal para o estrangeiro, que nos anos 60 e 70 criaram grandes comunidades Portuguesas em diversos países. 50 anos mais tarde, instalou-se em Portugal uma crise económica sem precedentes que trouxe um novo significado e objectivo à, agora chamada, "saída do país", o de manter os bens, ou simplesmente ter uma oportunidade de trabalhar na sua área. Com base num trabalho de campo em curso com Portugueses recentemente chegados à cidade de Munique na Alemanha. Aqui, encontram-se diversos tipos de emigrantes, que nos permitem descobrir as diferentes percepções daquilo que é a saída do país, para uns, ou emigração para outros (qualificada vs. não qualificada). Com a análise destas características nesta nova forma de procurar a qualidade e nível de vida que o próprio país não permite. Pretende-se analisar e comparar as seguintes questões: Qual o perfil deste novo emigrante qualificado e o que o leva a sair de sua casa e ficar longe dos seus? Quais são os objectivos pessoais e profissionais? Os valores existentes e adquiridos após a mudança? Como encara a sua relação com Portugal, os seus amigos, a sua família, a comunidade portuguesa, o seu país de acolhimento?
Tendo como ponto fulcral a emigração qualificada - existindo uma base de apoio para esta comparação, a comunidade que acolhe novos emigrantes -, pretende dar resposta a estas questões dando especial atenção à adaptação de um grupo a uma realidade desconhecida, tendo como apoio.
Paper short abstract:
Os refugiados constituem uma das populações mais vulnerabilizadas. Na presente crise económica e social, os compromissos de protecção anteriormente assegurados pelo Estado, são agora desrespeitados, provocando sentimentos de desorientação e injustiça entre os que aqui pedem asilo.
Paper long abstract:
As recentes alterações à lei provocaram uma fragilização ainda mais acentuada, nas vidas dos refugiados. O desemprego, a redução dos frugais subsídios e o envio dos requerentes de asilo, por parte da Segurança Social, para municípios localizados longe do distrito de Lisboa, agudizam, ainda mais, a precariedade das suas vidas. Perante esta situação, que estratégias de sobrevivência e resiliência encontram os refugiados, quando falham todos os apoios institucionais e sociais? A solidariedade e interajuda entre pares, ainda é um recurso, quando todos os outros falham? Ou a solução passa por vias mais radicais, como a fuga para países onde passarão a trabalhar clandestinamente, sujeitando-se à condição de "ilegalidade" imposta e, consequente, perseguição e risco de expulsão da UE? Ou será que apenas lhes resta uma vida sujeita à "caridade", materializada através das cantinas sociais e albergues para sem-abrigo? Muitos refugiados, em particular os que se encontram profundamente traumatizados, acabam por desaparecer, sendo praticamente impossível encontrar o seu rasto. Mas também há aqueles que decidem organizar-se através da criação de estruturas associativas e, a partir daí, lutar pelos seus direitos e por uma maior visibilidade social e política. Assistimos pois ao que Fassin se refere como sendo o oscilar entre políticas e atitudes sociais de "compaixão" e "repressão". Também se aplica a estas realidades o conceito de "governmentality" (Foucault,1991), tendo em conta que cada vez mais, as instituições, através das suas atitudes, passam a tomar as populações mais frágeis, como objectos.
Paper short abstract:
Esta comunicação explora o impacto da expansão da educação formal em comunidades em desenvolvimento, salientando os efeitos adversos que podem emergir do processo, tais como o conflito intergeracional, a migração para centros urbanos e a demoção de sistemas de valores e de conhecimento tradicionais.
Paper long abstract:
Esta apresentação levanta questões acerca do papel da educação formal em contextos de rápida transformação social. O caso aqui oferecido é o de Guaribas, um vilarejo de 2.000 agricultores no sertão do Piauí que foi selecionado em 2003 pelo Programa Fome Zero como comunidade-piloto e "laboratório de desenvolvimento" de suas políticas públicas.
A expansão da educação foi um dos eixos centrais do programa para a transferência de "tecnologia social". As formas de saber da educação formal tomaram um significado análogo ao de "desenvolvimento" em Guaribas, sendo equacionados à modernidade e aos estilos de vida urbana geralmente cobiçados por populações camponesas estigmatizadas por seu "ruralismo provinciano". A qualificação educacional traduziu-se em capital cultural, conferindo àqueles que são versados em seus atributos um status superior no vilarejo, bem como a sua ausência foi sendo associada a um passado de "ignorância" e "rusticidade".
Novos modelos de carreira, disseminados pela educação formal, contribuíram para a emergência de conflitos intergeracionais no vilarejo. Não só alargou-se o hiato entre os desejos e sonhos diversos das diferentes gerações, mas inverteu-se também o fluxo tradicional da passagem de conhecimento e autoridade, sendo o saber (escolar) dos mais jovens mais valorizado do que o saber dos mais velhos.
Portanto, não é produtivo reduzir o significado da educação pública à uma função automaticamente positiva de capacitação uma vez que seu avanço potencialmente demove sistemas nativos de conhecimento, intensifica o conflito intergeracional e molda desejos e aspirações que, frequentemente, não estão em consonância com as possibilidades reais das populações locais.
Paper short abstract:
Nesta análise inicial dos fluxos transnacionais de pessoas, que acompanham a assimetria entre o crescimento económico no Brasil e a recessão em Portugal, pondera-se o fenómeno de migrações friccionais como fuga à mobilidade descendente e resposta dos sujeitos aos efeitos da crise global.
Paper long abstract:
As mudanças socioeconómicas que ocorrem na travessia actual dos migrantes e nos países envolvidos são reconfiguradas pela atual crise mundial (NIJKAMP & POOT 2012). A crise económica e financeira iniciada em 2008 e os seus efeitos no mercado de trabalho (PEIXOTO & IORIO 2011), poderá ser analisada como uma crise estrutural de longa duração (WALLERSTEIN 2011), com origens sistémicas, iniciadas em 1970 e com condições geoeconómicas de fortalecimento do neoliberalismo através de "crises sustentadas" (ONG 2007). Destaca-se o contraste entre o período de "rising tide", no pós-guerra da segunda guerra mundial, caracterizado como os "gloriosos trinta anos", que beneficiou uma larga maioria de países e o período actual de "ebb tide", que caracteriza a crise económica global, com particular incidência nas populações da Europa do Sul, derivado da agenda da UE, assente em políticas de austeridade. Pretende-se, em primeiro lugar, agregar as dimensões subjectivas e as condições objectivas dos trajectos migratórios, mesmo que não lineares e sujeitas a fricções, na globalização contemporânea (TSING 2005).