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- Convenors:
-
Joana Lucas
(NOVA FCSH)
Carla Almeida (Universidade Algarve)
- Location:
- Sala 1, Ciências Veterinárias (Map 30)
- Start time:
- 11 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 2
Short Abstract:
Procurar-se-á identificar e analisar processos, discursos e práticas do turismo colonial e pós-colonial enquanto fenómenos que revelam renovadas dimensões de relacionamento entre "metrópoles" e "colónias", constituindo áreas para reflexão sobre novas formas de inter-relacionamentos identitários.
Long Abstract:
Procuraremos discutir o turismo colonial e pós-colonial tendo em conta distintas abordagens. Neste tipo de turismo está implícita, como característica genérica dos seus discursos e das suas práticas, a revisão de pressupostos coloniais estabelecidos a partir de relações entre dominantes e dominados, posteriormente substituídos pelo discurso da complementaridade e pela "cultura turística" do encontro entre o "autêntico" autóctone e o turista "consciente", assente numa renovada radicalização da alteridade.
Pretendemos contribuir para uma reflexão sobre a construção do exotismo, e seu posterior consumo em contextos marcados pelas lógicas turísticas.
Para tal consideramos três abordagens: a) por um lado, analisar os discursos de promoção do turismo colonial e pós-colonial no sentido de compreender como ambos se estruturaram e organizaram com base em conceitos de "autenticidade" e "exotismo" que contribuem para a essencialização das populações locais b) por outro lado analisar os modos como essas mesmas populações se apropriam ou rejeitam as narrativas produzidas sobre elas c) por último procuraremos perceber como as estratégias de objetificação turística dos destinos do "sul" se consubstanciam no encontro entre turistas e população local.
Serão bem-vindas reflexões sobre turismo colonial e pós-colonial que articulem diferentes ângulos da genealogia e praxis turística, procurando identificar como estas contribuíram para a sistematização e organização dos discursos identitários relativos às populações e territórios locais.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Com base nos relatos experienciais de diferentes atores sociais (caçadores, jornalistas, escritores e turistas) e na análise dos discursos de promoção turística do Parque Nacional da Gorongosa, explorar-se-á as configurações ideológicas, coloniais e pós-coloniais, do turismo da natureza.
Paper long abstract:
"Tivemos uma maravilhosa surpresa ao encontrar este lugar selvagem. As pessoas precisam dum paraíso para viverem" (palavras escolhidas por um grupo de turistas para relatarem a sua estadia no Parque Nacional da Gorongosa em 2004).
Os relatos de quem esteve, mesmo que brevemente, na Gorongosa permitem entender emoções, nostalgias, diferenças e recorrências nos modos de glorificação e comodificação da natureza.
Partindo dum trabalho anterior em que se deu voz a testemunhos de diferentes atores sociais (caçadores, jornalistas, escritores e turistas) agora complementado pela análise dos discursos de promoção turística da Gorongosa, tentarei refletir sobre os processos de configuração ideológica, nos períodos colonial e pós-colonial, do turismo da natureza.
A Gorongosa surge nesta comunicação como um cenário paradigmático da construção de imaginários, modos de relação identitários e… do "paraíso" em África.
Paper short abstract:
Na ilha de Moçambique, espaços museológicos tal como o Museu da Ilha e o Jardim da Memória, remetem para apropriações distintas do passado que podem ser identificados com diversas conceções patrimoniais. O objeto desta comunicação é estimar com são vividos e negociados estes espaços.
Paper long abstract:
A Ilha de Moçambique, enquanto Património da Humanidade, está implicada num processo de monumentalização e de negociação sobre o passado, que poderá ser abordada através das suas representações museológicas. O Museu da Ilha, herdado do período colonial e o Jardim da Memória, criado no contexto da Rota da Escravatura, promovida pela Unesco, correspondem a contextos históricos diversos, veículos de diferentes "espólios" da história.
Em 2010 tive ocasião de participar em diferentes comemorações - Inauguração de Exposição de Loiça Ming, no Museu da Ilha - e - Celebração do Dia memorial contra a Escravatura - no Jardim da Memória. Estes acontecimentos serão tomados como narrativas que permitiram localizar as construções simbólicas que lhe estão associadas. Os rituais comemorativos em cada um dos espaços, revelaram diversos níveis de interação, integração local e global retratando, não só redes locais, mas também, a sua extensão global, destacando-se assim o poder agregador operado através do património. Alguns acontecimentos e relações em seu redor expuseram sinais contraditórios. Se por um lado o património assume um papel identitário, por outro, revela-se também como elemento dissonante, em qualquer dos casos estudados. E ainda que a sua integração no tecido social, ou em memórias individuais e coletivas revele dissonâncias, ela realiza-se através de diversas articulações sociais, mobilizando instituições e afetos.
Paper short abstract:
Tomando o território da Mauritânia colonial como terreno privilegiado de análise, procuraremos discutir de que forma o país foi constituído como destino turístico no quadro da África Ocidental Francesa, e como foi operada uma reconfiguração da linguagem de promoção turística no contexto pós-colonial.
Paper long abstract:
No início do século XX começam a surgir os primeiros esboços de um discurso de promoção turística relativo aos territórios da África Ocidental Francesa. No entanto é só a partir da segunda metade dos anos 1920 que a consolidação da linguagem e da logística do turismo se afirmam em contexto colonial. No conjunto das colónias francesas da África Ocidental a Mauritânia (ocupada entre 1902 e 1960) constituía um destino turístico de difícil e crítica promoção, tendo em conta o seu desértico território aparentemente desprovido de "atractivos" turísticos.
A partir da análise de textos e guias turísticos editados durante o período colonial procuraremos perceber como foi promovido turisticamente - apesar dos maus vaticínios inaugurais - o território da Mauritânia, e de que forma foi mobilizado um discurso que valorizava o "exotismo" das suas populações apelando concomitantemente à realização de um turismo "etnográfico" e cinegético no país.
Num contexto pós-colonial iremos igualmente mostrar quais foram os ingredientes com que se consolidou o turismo contemporâneo na Mauritânia, onde a estratégia de promoção turística recorre claramente a um imaginário colonial de conquista e mapeamento do território. Este imaginário toma o deserto como um terreno privilegiado de alteridade, dotando-o para isso de uma série de valores que atestam e comprovam a sua "autenticidade", sobretudo através da construção artificial de pares de oposição face às "características" do "mundo ocidental".
Paper short abstract:
O propósito desta comunicação é examinar as dinâmicas de valorização patrimonial e exploração turística em três localidades da África Ocidental, marcadas pela presença portuguesa e pelo tráfico negreiro: Gorée, no Senegal; Elmina, no Gana; Cidade Velha, em Cabo Verde.
Paper long abstract:
Durante muito tempo, o tráfico transatlântico de escravos permaneceu na penumbra, tanto para historiadores, como para cientistas sociais. Só no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, em paralelo com a solidificação dos Estudos Africanos e dos Estudos da Diáspora Africana, é que este longo episódio dramático se tornou um tema de investigação consistente nos meios académicos. Timidamente começaram também a aparecer obras literárias, séries televisivas, músicas e filmes, que contribuíram para criar uma imagem idílica de África e, por conseguinte, promover o "retorno" de africanos na diáspora às "raízes" perdidas. No entanto, nem sempre esse "retorno" é/foi pacífico…
A Ilha de Gorée, Elmina e Cidade Velha são três localidades da África Ocidental marcadas pela presença desigual de património de influência portuguesa e por terem sido entrepostos importantes do tráfico negreiro. As três localidades encontram-se inseridas na Lista de Património Mundial da Humanidade, da UNESCO. Enquanto o potencial turístico dos primeiros dois lugares encontra-se desenvolvido, com algumas deficiências pontuais, no terceiro a realidade é outra. Tendo como referência um conjunto alargado de documentos (dossiers de candidatura dos três locais a Património da UNESCO, etnografias locais, brochuras turísticas), procurarei caracterizar as dinâmicas de valorização patrimonial e de exploração turísticas destes três contextos, amiudadamente controversas; os factos históricos, a memória local, os interesses estatais e a emotividade dos turistas nem sempre se encontram em sintonia.
Serão feitas, por fim, referências ao impacto do projecto "A Rota dos Escravos" (UNESCO) e às semelhanças e diferenças prevalecentes nos três contextos já mencionados.
Paper short abstract:
Acompanhando o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias propomos uma leitura da inauguração portuguesa do turismo colonial, mostrando como articula diferentes ingredientes da genealogia do turismo: do Grand Tour, do Indian mail, da organização republicana dos corpos e do lazer nos estados totalitários
Paper long abstract:
Embarcando no Primeiro Cruzeiro de Férias às Colónias, promovido em 1935 pela Revista O Mundo Português, órgão da Sociedade de Propaganda Nacional, tentaremos encetar uma análise preliminar ao mundo do turismo colonial português. Acompanhando este cruzeiro demonstraremos que aí, tal como no que respeitou ao turismo continental, a relação entre turismo e propaganda durante o Estado Novo era indelével e a sincronização de iniciativas turísticas ou para-turísticas com a necessidade de afirmação internacional do território ultramarino - o tempo é de crise económica mundial após o crash de 1929, particularmente sentida nos territórios coloniais portugueses, produtores de matérias-primas - se torna evidente.
De forma ainda ensaística, procuramos nesta leitura da inauguração portuguesa do turismo colonial recuperar e articular os diferentes prismas da genealogia do turismo e da colonização ditos modernos: seja a génese do turismo associada ao Grand Tour, seja a análise do turismo como forma de imperialismo colonial, seja ainda o entendimento da relevância de organização do organização do lazer e da juventude na primeira metade do século XX para a configuração das práticas turísticas modernas.
Para ilustrar essa convergência mostraremos como o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias foi um ato decididamente colonial - uma viagem de soberania e sua exibição nacional e internacional com intuitos políticos de subordinação cultural e de angariação económica ¬- mas também como nele embarcaram todos os pressupostos da constituição da nação e da pedagogia do sujeito português moderno.
Paper short abstract:
Analisamos narrativas coloniais e pós-coloniais constitutivas da identidade nacional e do projecto do Brasil turístico.
Paper long abstract:
Na comunicação debatemos a constituição de uma composição de imagens do Brasil que, directa ou indirectamente, remete para noções de "raça", exotismo e sensualidade, suscitando determinadas formas de imaginação, desejo e atracção turística à escala internacional. Consideramos, para tal, as narrativas coloniais e pós-coloniais - religiosas, históricas, etnográficas, literárias - com base nas quais a mestiçagem e a carga sexual a ela associada emergem como expressões maiores da produção da identidade do país. Na análise destas narrativas prestamos particular atenção à figura da mulata enquanto ícone global da brasilidade e imagem central no processo de construção do Brasil turístico, que, importa sublinhar, se cruza com o percurso de definição da estrutura identitária nacional.
Paper short abstract:
Aborda-se como uma ilha do litoral norte brasileiro, considerada morada “encantada” de El Rei Dom Sebastião, é apropriada através de uma multiplicidade de discursos que exaltam o exotismo como atrativo turístico, enfatizando-se a rica biodiversidade local e os “mistérios” que a cercam.
Paper long abstract:
A abordagem constitui-se numa tessitura sobre algumas questões desenvolvidas em minha tese de doutorado, por meio da qual busco apreender o processo de construções simbólicas sobre o patrimônio da Ilha dos Lençóis, uma ilha brasileira situada no litoral ocidental do Estado do Maranhão, que integra uma Unidade de Conservação denominada Reserva Extrativista Marinha de Cururupu. Chama-se a atenção para o fato de o imaginário sobre o lugar e seus habitantes, revestido da "encantaria sebastianista" (seu patrimônio cultural par excellence), e de um rico patrimônio natural (avifauna, manguezais, e dunas que cobrem 70% da ilha) serem arregimentados no discurso do ecoturismo. Esta ilha é considerada encantada, "misteriosa", enquanto morada de El Rei Dom Sebastião, que se encontra "encantado" no mundo do fundo, referenciado como uma entidade do sincretismo religioso. Além disso, nessa pequena comunidade de pescadores artesanais, um alto índice de albinismo verificado na população suscitou várias interpretações imaginárias, seja no discurso de jornalistas, literatos e membros da cultura popular, seja no discurso dos empreendedores do setor turístico. Assim, procuro identificar como a categoria patrimônio, e especificamente a de patrimônio intangível, é levada a agregar valor ao mercado ecoturístico. Áreas protegidas são tomadas como um grande filão para o turismo; e se essas áreas são habitadas, o que era visto como exótico, primitivo, agora é renomeado como tradicional, dando novas adjetivações ao cenário da paisagem, e um conjunto de processos acaba sendo acionado, em busca, não raro, de um pretenso "paraíso" escondido, resguardado, suscitando questões tão caras à abordagem antropológica.