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- Convenors:
-
Antonio Carlos De Souza Lima
(Museu Nacional-UFRJ)
Carla Teixeira (Universidade de Brasília)
- Location:
- Sala 5, Ciências Veterinárias (Map 30)
- Start time:
- 11 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Este painel objetiva refletir sobre os desafios que as investigações antropológicas em instâncias estatais, elites políticas e arenas de fabricação de políticas de governo colocam à etnografia como forma de produção de conhecimento
Long Abstract:
Desde o clássico artigo "Up the anthropologist - perspectives gained from studying up" de Nader, publicado nos anos 70, muitas pesquisas antropológicas têm sido feitas entre diferentes tipos de elites em sociedades complexas, bem como em processos de governança e administração mais ou menos estatais. Tal acúmulo de investigações tem permitido ampliar o repertório dos significados sociais da política e dos processos estatais, apontando sua polissemia, fronteiras em movimento, rituais, subjetividades em produção, tempos e espaços, macro e micro poderes.
Já no que se refere à reflexão sobre o fazer etnográfico em tais universos empíricos, muito há que avançar. Vários artigos que abordam dificuldades de pesquisar instituições prestigiosas (governamentais ou não) e sujeitos detentores de poder focalizam as restrições de acesso que enfrentaram, as portas fechadas e os segredos, e propõem estratégias de campo alternativas.
Contudo, raros mapeiam como essas dificuldades impactam a etnografia como uma forma de produção de conhecimento que não se confunde com a observação participante. A ambição deste painel é suscitar articulações entre os desafios da pesquisa e desafios ético-morais, da escrita, da relação de poder entre sujeitos-investigador, do lidar com conhecimento produzido e ocultado pelos sujeitos, para compreender a especificidade desses contextos dinâmicos de experiências vividas e, simultaneamente, repercutir sobre os estereótipos do fazer antropológico a partir das demandas reais colocadas à pesquisa hoje.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Este trabalho discute como lidar etnográfica e analiticamente com universos de pesquisa em que o segredo e a mentira são parte do jogo a ser jogado. Focaliza pesquisas realizadas em distintas instâncias estatais considerando a positividade sociológica do omitir e alterar informações.
Paper long abstract:
Este trabalho considera a mentira e o segredo como um dos dispositivos e tecnologias de poder, a partir de desafios próprios à pesquisa com elites políticas e instâncias estatais. A questão que se coloca é como lidar metodológica e conceitualmente com sujeitos de pesquisas que pertencem a um universo no qual o mentir ou omitir fatos é parte do jogo a ser jogado, como é o caso da política?
Pois como já havia percebido Simmel, as estruturas sociais variam profundamente de acordo com a medida de mentira que nelas operam. Assim, não se pode pensar a mentira sem considerar o mundo a que ela pertence, pois ela não é pura negatividade. O significado social da mentira requer, como explorou J.A.Barnes em A Pack of Lies, que se pergunte: quem mentiu, para quem, como, quando, com relação ao presente ou ao passado, com que intenções e onde? Somente na consideração das interações concretas em que se inserem é que as ações são metamorfoseadas em mentir. Mentiroso é sempre o outro, é sempre uma categoria de acusação.
O caso dos políticos, contudo, traz um ingrediente novo, pois se antecipa que todo político não tem compromisso com a verdade.
Aqui é preciso considerar como na vida política algo vira informação na corte de reputação constituída pelos meios de comunicação, pois é quando a mentira vira notícia que ela se constitui ao ser revelada como tal.
Paper short abstract:
Este trabalho visa refletir sobre a relação entre ética, antropologia e novas formas de regulação, considerando o caráter produtivo das tensões como agência para o conhecimento.
Paper long abstract:
Este trabalho visa refletir sobre a relação entre ética, antropologia e novas formas de regulação, considerando o caráter produtivo das suas (inevitáveis) tensões como agência para o conhecimento. Trata-se de conjugar dois conjuntos de problemáticas que balizam meus interesses de pesquisa no Brasil - de um lado, a implantação de novas práticas de governo da infância e juventude e, de outro lado, as recentes políticas de regulamentação ética da ciência neste país, com fortes influências da bioética. Percebe-se que, num cenário político que aposta no desenvolvimento nacional e na eficiência das instituições, tanto os antropólogos quanto os agentes institucionais envolvidos com a implementação de políticas públicas encontram-se confrontados com exigências de transparência, controle e padronização de procedimentos. Ao mesmo tempo em que tal cenário pode aproximar antropólogos e sujeitos pesquisados, pode ser também um componente eficaz na obstrução e/ou controle da pesquisa antropológica. Nesse caso, à forte politização da antropologia provocada na incursão etnográfica em instituições e/ou "campos up" contrapõe-se a tecnicidade redutora das políticas de regulamentação de ética na ciência. É intuito desta comunicação considerar tal cenário e seus reflexos na configuração das pesquisas antropológicas e nas formas de produção de conhecimento em antropologia, uma vez que se trata de tencionar não apenas um sentido sobre o "ético", mas também sobre "ciência" e suas justificações.
Paper short abstract:
Enquanto investigadora e técnica no âmbito da habitação social, pretendo refletir acerca dos desafios metodológicos e condicionantes ético-políticas da minha investigação sobre representações sociais dos técnicos participantes na gestão dos apoios sociais do Estado Português.
Paper long abstract:
As instituições do Estado português responsáveis pela atribuição e gestão de apoios sociais (como a habitação social ou apoios pecuniários), posicionam os seus funcionários - nomeadamente os trabalhadores sociais (ou técnicos), em papéis, funções e posições específicas da sua orgânica hierárquica. Consequentemente, o seu grau de conhecimento e interação com os beneficiários desses serviços depende não só da posição do funcionário em termos da proximidade com os mesmos (condicionante do seu conhecimento sobre a realidade socioeconómica e familiar dos sujeitos) como também do seu lugar na hierarquia organizacional, que influencia a sua avaliação (mediante critérios legais e institucionais) e grau de decisão sobre o acesso ao serviço.
Toda esta dinâmica envolve processos de interacção social, relações de poder, produção e troca de significados entre os sujeitos - processos estes complexos e orientados (em parte) pela "lente" das representações sociais dos trabalhadores sociais sobre a realidade onde estão inseridos. A minha investigação tem como objeto essas mesmas representações, que considero terem um papel preponderante nas práticas culturais/organizacionais dos técnicos enquanto avaliadores e mediadores da concessão dos apoios sociais do Estado.
Enquanto investigadora mas também enquanto técnica no âmbito da habitação social, nesta apresentação discutirei algumas reflexões e ansiedades sobre os desafios desta pesquisa, nomeadamente a gestão das expectativas dos entrevistados sobre o conhecimento produzido, a necessidade de vigilância redobrada sobre os meus próprios posicionamentos ético-morais perante as representações dos meus "pares"/interlocutores e a consciência (awareness) de um processo de investigação simultaneamente delicado e complexo, num contexto profundamente politizado e mediatizado.
Paper short abstract:
Trata-se de reflexão sobre etnografia no setor elétrico brasileiro a partir do cotidiano em uma empresa pública, apontando conflitos entre as abordagens antropológicas e projetos de desenvolvimento do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC
Paper long abstract:
Reflete-se nesse artigo sobre a prática etnográfica em um órgão público e os conflitos vivenciados por antropólogos em programas de desenvolvimento, mormente pensados por uma elite de governo. A perspectiva é dada a partir da experiência de dois analistas concursados - uma cientista social e um antropólogo - em um órgão do setor energético. Esses técnicos de pesquisa energética ingressam na empresa por intermédio de concurso público, o que os confere posição específica e demandas diferentes das requeridas em trabalhos de consultoria e pesquisas acadêmicas. Nessa proposta, são problematizadas as práticas cotidianas dos processos que conformam os projetos do setor elétrico. Tais processos acionam antagonismos entre as representações hegemônicas - projetos nacionais essencializadores de uma certa noção de desenvolvimento - e os paradigmas antropológicos, como, por exemplo, o relativismo cultural. A posição de antropólogo requer a relativização de categorias operatórias, mas também um conjunto de estratégias para a inclusão da abordagem antropológica em programas de desenvolvimento, isto é, a apropriação desta por seus colegas no setor elétrico, com outras formações acadêmicas, e pelos tomadores de decisão. O acesso a dados etnográficos com potencial apelo em esferas judiciais e midiáticas tende a comprometer a divulgação acadêmica necessária à crítica das categorias operatórias dos programas de desenvolvimento do setor elétrico. Quando o antropólogo se insere em órgãos públicos, a obtenção de dados se torna mais fácil que se manter nos conflitos éticos, epistemológicos e políticos gerados em função do antagonismo entre os pressupostos da antropologia a vontade de se manter na disputa pelo campo.