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- Convenor:
-
Fernando Ampudia de Haro
(Universidade Europeia / CIES-IUL)
- Location:
- A1.12, Reitoria/Geociências (Map 10)
- Start time:
- 10 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 2
Short Abstract:
O actual contexto de crise tem colocado os mercados, os agentes e os comportamentos financeiros no centro do debate público. O painel pretende reunir contribuições que analisem as diferentes vertentes etnográficas das finanças de forma a ultrapassar uma visão das mesmas exclusivamente económica
Long Abstract:
O sistema financeiro é uma extensa rede global integrada por governos, reguladores e corporações privadas. Neste sistema o dinheiro adquire a forma de activos financeiros transaccionados ao longo do planeta. Mas, o mercado em singular, próprio das perspectivas economicistas, é também mercados no plural; mercados como instituições enquadradas num contexto social e integradas por actores, práticas e significados culturais que vão além do "puramente económico". Partindo de uma visão dos mercados como elementos inseridos nos patrões de organização social e de significação cultural, o painel tem um objetivo fundamental:
Pretende-se reunir contribuições que analisem a conduta financeira na sua ligação a uma ampla variedade de comportamentos, instituições e crenças sociais, políticas, rituais e culturais. Neste sentido, apela-se à apresentação de comunicações que versem preferencial mas não exclusivamente sobre algumas das áreas seguintes: etnografias em instituições financeiras; concepções das finanças e das culturas financeiras; materialidade e corporeidade nas práticas financeiras; práticas quotidianas no espaço profissional das finanças; aprendizagem, socialização e transmissão do conhecimento financeiro; crédito e relações de poder; literacia e iliteracia financeiras ou auto/hétero-representações culturais dos mercados financeiros.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
A partir de una etnografía en bancos, se toma el caso de un trader. Del caso se extraen conclusiones acerca de prácticas institucionales como son la lógica de incentivos y el manejo de la deuda simbólica, las cuales tienen efectos sobre la construcción de los traders como sujetos performantes.
Paper long abstract:
Estudios etnográficos han descrito el espacio de relaciones de los traders como un espacio marcado por el interés económico, la competencia y los códigos masculinos. Nuestro trabajo etnográfico en instituciones bancarias chilenas, confirman estos hallazgos. Mas allá de estos resultados, nos interesa dar cuenta de los modos de subjetivación en este espacio de relaciones. Tomando nuestra etnografía, seleccionamos el caso de un sujeto, no solo porque éste nos permitiera observar su recorrido singular sino porque también, a partir de su caso pudimos levantar descripciones acerca de las prácticas institucionales en este medio y deducir cómo dichas prácticas inciden en los comportamientos, en los modos de subjetivación de los sujetos implicados.
Uno de estas practicas refiere a los incentivos. Cuando la repartición de estos no es transparente ni equitativa, aparece el descontento, pero también la figura del privilegiado. Aumenta la competencia entre los sujetos. Sin saber a qué atenerse respecto de la autoridad, los sujetos desarrollan estrategias de mostración buscando reconocimiento, lo cual termina siendo funcional a los fines lucrativos institucionales.
Otro aspecto refiere al manejo de la deuda simbólica dentro de una perspectiva institucional economicista. En medio de incesante posibilidad de ganar o perder, existen dispositivos institucionales que permite administrar los efectos subjetivos que las pérdidas producen en los sujetos volviéndolos performantes. La estrecha relación con el jefe permite desmentir todo temor o culpa, mediante la confesión del error. Además del manejo de la prohibición, el jefe incita al riesgo a través de la ampliación de los márgenes de apuesta.
Paper short abstract:
O estigma social dos falidos agiu sempre como um poderoso controlo social que refreou o uso (abuso) dos procedimentos falimentares que se foram instituindo. Com o aumento das falências é lícito perguntar em que medida tal se ficará a dever a uma eventual diminuição desse estigma social.
Paper long abstract:
No livro Stigma: Notes on the Management of Spoiled Identity, de 1963, Goffman refere-se ao estigma como o processo pelo qual a reacção dos outros a um determinado traço (físico, de carácter ou de cultura) impede uma pessoa de construir uma identidade social normal.
Historicamente, a falência foi sempre objecto de juízos desfavoráveis e de punições severas. Aviltamentos e sevícias foram práticas reiteradas contra os falidos, impostas e sancionadas tanto pela lei como pela moral. O falido foi sempre estigmatizado, encarado como um ser não confiável, desonesto, até um criminoso.
Esse estigma social ligado aos falidos foi aproveitado para controlar o recurso ao crédito excessivo e ajudou a reforçar a coercibilidade de vários dispositivos legais, com destaque para o princípio jurídico da pacta sunt servanda (as convenções são para se honrar) e desincentivou por muito tempo o recurso ao processo de falência.
Este estado de coisas parece ter-se alterado. Em 2010, o número de falências individuais em Portugal disparou. Em 2011, ultrapassou pela primeira vez o de empresas. Neste cenário é lícito questionar em que termos se poderá falar de uma diminuição do estigma associado à falência e quais os efeitos disruptivos que tal poderá ter na sua faceta de controlo legal e social. Esse questionamento far-se-á no contexto mais vasto da discussão sobre um estado de anomia que se crê estar a instalar-se na sociedade portuguesa.
Paper short abstract:
This paper intends to contribute with an ethnographic account of a deceitful everyday mandatory financial practice called “upselling,” performed by an English foreign exchange multinational corporation in Denmark. It is highly insightful for understanding our contemporary ideological time.
Paper long abstract:
Within a crisis context, "upselling," as a case study of a particular practice of an English foreign exchange multinational corporation, enlightens one about the financial ethos anthropologically. I encountered this practice while residing in Denmark, having been myself a "native" cashier from 2007 to 2009, and I have been taking it obsessively as my research topic ever since. "Upselling" is both a unique and mandatory practice and its goal is to maximize profit in every buying transaction done with every single one of its customers, which, furthermore, is not to be spoken of to no one, ever. It is, nevertheless, a common topic of conversation among the workforce. The majority of the international cashier workforce of the corporation in Denmark is constituted of foreigners, with a few so-called andengenerationsindvandrer (second-generation of immigrants); moreover, there is a general unhappiness concerning this employment, to the point of being actually a hated one. Drawing from fieldwork with my former colleagues, the interviewed cashiers blatantly perceive "upselling" as a cheating practice: it deceives customers - contrasting sharply with the corporation's discourse. It will be described how this practice is performed. Furthermore, customers often complain about this particular transaction and it has dreadful consequences: insults, curses, spits and punches towards the cashiers on the other side of the bulletproof glass, some material damage, and it even ends sometimes extremely with the local police being called, either by the customers or the cashiers' themselves, to the bureaux de change too.
Paper short abstract:
Esta comunicação analisa os processos de reforma financeira em curso a partir de três ideias complementares: 1) uma ideia de continuidade institucional (cf. Tarde e Arrighi); 2) uma ideia de conversação formal pública; e 3) uma ideia de metafísica (cf. Collingwood).
Paper long abstract:
A crise de 2007-2008 trouxe consigo a urgência de uma ampla reforma do sistema financeiro. Desde então, novas instituições foram criadas — como o Financial Stability Board (sob os auspícios do G20) ou as novas Autoridades de Supervisão Europeia (impulsionadas pela Comissão e pelo Conselho Europeus) —, assim como todo um conjunto de acordos, regulamentos, standards e linhas orientadoras de âmbito internacional. Esta comunicação propõe-se olhar para estes processos de reforma financeira a partir de três ideias complementares: 1) uma ideia de continuidade institucional, segundo a qual aquilo que é apresentado como 'novo' nos aparece como um prolongamento ou mesmo como um reforço de estruturas já existentes, tendo a sua inspiração no conceito de 'imitação' avançado por Tarde, assim como na distinção entre 'mudança contínua' e 'mudança descontínua' proposta por Arrighi; 2) uma ideia de discussão formal pública entre as partes interessadas, tomando como exemplo empírico o caso da remodelação da LIBOR e de outros índices financeiros, e que conduzirá a uma apreciação da sugestão de Maurer sobre o dinheiro como uma espécie de guião cinematográfico onde o fim já é conhecido e o que verdadeiramente conta é o modo como ele é encenado, discutido, comentado; e 3) uma ideia de metafísica, inspirada no filósofo R. G. Collingwood, destinada a sublinhar aquilo que, num contexto de mudança contínua assente em conversações formais envolvendo diversos parceiros, raramente entra em discussão — e que é o dinheiro propriamente dito — ou o dinheiro enquanto conceito, sinal, símbolo, ficção — numa palavra, o dinheiro enquanto realidade antropológica.
Paper short abstract:
Esta apresentação propõe um modelo de abordagem etnográfica a uma sala de mercados que terá em conta as seguintes dimensões: racionalidades económicas, figuras culturais e corporalidades na sala de mercados, ligação entre as diferentes esferas da vida dos agentes desses mercados.
Paper long abstract:
Esta apresentação analisa a pertinência de uma abordagem etnográfica aos mercados financeiros e esboça um modelo analítico a partir de uma revisão de etnografias nos mercados financeiros.
Na literatura que mais tem analisado os mercados financeiros - os estudos sociais da finança - de orientação próxima da Teoria do Actor-Rede, a pesquisa etnográfica é usada em contextos financeiros, enquanto estratégia de observação dos processos de cálculo, de constituição e reprodução de racionalidades financeiras. Através destas novas etnografias tem-se mostrado, com recurso à noção de dispositivo sociotécnico, como o homo economicus e as suas interacções de mercado conformes à teoria financeira emergem da organização sociotécnica e socio-funcional dos locais de trabalho do sector financeiro.
Embora dando conta das forças materiais envolvidas na produção dos mercados financeiros, estas análises focam pouco as suas dimensões culturais e subjectividades. Assim, o modelo etnográfico aqui ensaiado coloca a seguinte pergunta: como se faz - na sala de mercados - um homo economicus? Um tal modelo incluirá ferramentas analíticas que dêem conta das seguintes dimensões: racionalidades económicas, figuras culturais e corporalidades na sala de mercados (p. ex. relações de género), ligação entre as diferentes esferas da vida dos agentes desses mercados - o trabalho nos mercados e as suas racionalidades específicas em relação com as suas visões acerca do mundo noutros contextos.
Paper short abstract:
As iniciativas de literacia financeira visam não só a constituição de um agente autónomo, capaz de prover as suas necessidades, mas também a de um consumidor-supervisor, capaz de monitorizar as instituições financeiras, legitimador dos mercados enquanto mecanismos superiores de afetação de recursos.
Paper long abstract:
A crise financeira quebrou, parcialmente, a confiança depositada na capacidade de auto-regulação dos mercados, assim como na capacidade de decisão racional e informada dos consumidores, reconhecendo-se a necessidade de reforçar a regulação do sector financeiro. Com os níveis de sobreendividamento das famílias a serem apontados como uma das causas da crise, assistiu-se a uma renovada aposta em iniciativas de educação financeira. Embora tenham o mérito de reconhecer a complexidade das decisões financeiras, a relevância destas iniciativas fica seriamente comprometida pelo que se conhece acerca do comportamento e pela importância do contexto socioeconómico sobre a situação das famílias. A partir da análise do enquadramento e dos argumentos apresentados em defesa destas iniciativas, constata-se que esta aposta faz parte de uma política mais ampla de promoção da intermediação financeira. Associada à retração da provisão pública, novos mercados financeiros têm sido promovidos, nomeadamente no filão dos planos privados de reforma. Os mercados surgem assim como o melhor dispositivo de provisão de bens a indivíduos crescentemente responsabilizados pelas suas decisões nas mais diversas esferas da vida. Mas esta aposta não visa só a constituição do consumidor autónomo, capaz de prover as suas necessidades. Pretende também formar o consumidor-supervisor, capaz de monitorizar as instituições financeiras, e assim promover a concorrência de mercado, obviando a necessidade de intervenção do próprio regulador. Conclui-se que a atual crise financeira não conduz a um significativo reforço da regulação. Pelo contrário, a crise é hoje percebida como oportunidade para a expansão dos mercados financeiros na vida social.
Paper short abstract:
O objectivo desta comunicação é realizar uma aproximação analítica à construção discursiva da bancarrota como problema social, simultaneamente nacional e individual, que legitima a implementação de programas de governo da conduta financeira.
Paper long abstract:
A comunicação analisa a definição da bancarrota como um problema social de natureza simultaneamente colectiva e individual. Essa definição baseia-se numa modalidade de racionalidade política específica, a partir da qual, são implementadas um conjunto de medidas encaminhadas à autocorrecção da conduta financeira da população mediante programas de literacia financeira. Como tal, estuda-se a continuidade argumentativa que vai desde a insolvência do Estado até à das famílias (e vice-versa) e o seu ajuste aos programas que visam a responsabilização financeira dos indivíduos. Em termos teóricos, a comunicação apoia-se numa dupla articulação entre pressupostos clássicos do construtivismo social e as contribuições de inspiração foucaultiana que fazem parte das análises da governamentalidade. Em termos empíricos,
a) a definição social da bancarrota é reconstruída com recurso a notícias da imprensa, rádio e televisão durante o período 2009-2012, nas quais um conjunto privilegiado de actores sociais em função da sua perícia técnica e/ou posição política, têm assumido um protagonismo fundamental na objectivação da bancarrota portuguesa, quer ao nível do Estado, quer ao nível das famílias.
b) A racionalidade política que subjaz a essa definição, assim como o regime de práticas inspiradas nela, serão abordados através da documentação oficial produzida pelo Estado português sobre o Plano Nacional de Formação Financeira.