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- Convenors:
-
Ema Pires
(University of Évora and IHC)
Cyril Isnart (CNRS)
- Location:
- Sala 3, Ciências Veterinárias (Map 30)
- Start time:
- 10 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 2
Short Abstract:
Trata-se de desenhar o perfil histórico das leituras antropológicas e dos usos patrimoniais das ligações entre lugares, culturas e heranças em contextos de espaços lusófonos, para discutir o poder contrapontual e de crítica da antropologia.
Long Abstract:
Os usos políticos das culturas (nacionais, regionais, locais e étnicas) corresponderam a um paradigma de governança que ligava consubstancialmente culturas e lugares. Uma parte da antropologia (difusionismo, culturalismo, folclore) inscreveu-se nesta perspectiva, tendo sido instrumentalizada pelos poderes modernos. Contudo, a tríade lugar/cultura/herança foi radicalmente redefinida pelas análises da mobilidade e das migrações. A perspectiva desterritorializada das culturas põe em questão a continuidade entre espaço e pertença, até celebrar o não-lugar. A antropologia revela-se assim um contra-discurso real face às formas de localismo comuns. Não obstante, assistimos hoje a um retorno da mobilização do lugar nas dinâmicas patrimoniais que parece paradoxal vis a vis a estruturação desterritorializada das migrações. A partir da construção/desconstrução dos bens patrimoniais que têm historicamente uma relação privilegiada com o lugar, este painel pretende contribuir para desenhar essa evolução histórica, social e antropológica nos contextos espaciais lusófonos. Em concreto, vamos explorar três temas: o lugar na tradição antropológica lusófona; a "patrimonialização das diferenças culturais" durante e depois do colonialismo; o regresso do território nas políticas públicas atuais. Esperamos estudos de casos etnográficos e balanços teóricos nos campos lusófonos para evidenciar o jogo de contraponto entre a antropologia, os lugares e as culturas.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
A partir de relatos do final do século XVIII, uma etnografia dos encontros e confrontos entre portugueses, índios e negros na exploração e consolidação da fronteira Oeste do Brasil, refletindo sobre a re-significação e a patrimonialização das heranças coloniais.
Paper long abstract:
No Brasil, o fazer antropológico alcançou , nas últimas décadas, as suas fronteiras mais distantes. Em Mato Grosso, onde desde o final do século XIX aportam etnólogos de várias nacionalidades, em busca dos últimos povos "primitivos" da terra, vemos hoje a fixação progressiva de novos professores e pesquisadores, formados pelos principais centros de reflexão do país. Nesses ambientes universitários, os antropólogos convivem com uma grande diversidade sociocultural e com as consequências conflituosas de uma forte expansão econômica, que impõem uma reflexão constante acerca do "estar aqui" e "escrever aqui". Dentre seus desafios está a renovação do olhar acerca de temas e objetos consagrados em outros campos de conhecimento, que permita avançar no debate em torno da constituição da sociedade mato-grossense atual. Esta proposta tem como objetivo fazer uma abordagem etnográfica das relações cotidianas entre portugueses, índios e negros nas fortificações, aldeias, vilas e arraiais de mineração na segunda metade do século XVIII, que levaram à exploração colonial, ao povoamento e à consolidação da fronteira Oeste do Brasil. Com o tempo, as heranças arquitetônicas da colonização - antigos "lugares da civilização" - foram re-significadas, territorializadas e patrimonializadas por uma população descendente de índios e negros, que identifica a sociedade mato-grossense tradicional, hoje estigmatizada pelos novos "civilizadores" do sul.
Paper short abstract:
Discutir a partir de duas publicações brasileiras, da segunda metade do século XX, a consagração de temas folclóricos e a relação que nestas publicações era estabelecida entre práticas culturais e determinadas regiões geográficas, bem como origens europeias e africanas atribuídas a estas práticas.
Paper long abstract:
A Revista Brasileira de Folclore (1961-1976) e os Cadernos de Folclore (1968-1986) são publicações da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, órgão do Governo Federal criado em 1958. Estas publicações foram uma das formas de atuação da rede de folcloristas que tinha membros em várias regiões brasileiras. Eram autores dos artigos estudiosos da cultura popular e folcloristas que muitas vezes escreviam sobre experiências de contato bastante localizadas e pessoais com a cultura popular. Ao mesmo tempo em que os estudiosos falavam de práticas culturais locais havia a discussão em torno da origem destas situando-as para além de seus contextos regionais e inserindo-as em circuitos de influência transnacionais ao apontar suas origens europeias - sobretudo portuguesas - e africanas.
Neste trabalho pretende-se discutir como eram construídas e consagradas determinadas práticas culturais como sendo folclóricas e de que forma estas eram relacionadas a determinadas localidades e consideradas como patrimônio da uma região ou da nação. Pretende-se entender como era construída a ideia de herança cultural europeia e africana junto a maior ou menor importância dada às adaptações locais destas práticas. Porquê aparece tão frequentemente nestas publicações a preocupação de que estas práticas estariam fadadas ao desaparecimento, tendo que ser registradas e preservadas? Como o contato de folcloristas brasileiros com folcloristas portugueses e, menos frequentemente folcloristas africanos, ajudou a criar a ideia de uma cultura portuguesa desterritorializada, e criadora de um patrimônio cultural tido como brasileiro? Essas são as questões a serem abordadas neste trabalho que fazem parte de uma pesquisa de doutoramento.
Paper short abstract:
Assiste-se na atualidade a uma viragem cultural e patrimonial em ações para promover e valorizar particularismos locais. A proposta é analisar como em Cabo Verde esta viragem se inscreve historicamente nos debates em torno da ideia de uma especificidade cultural caboverdiana.
Paper long abstract:
No contexto de Cabo Verde regista-se um crescente número de iniciativas que procuram reconhecer o valor patrimonial e cultural de práticas, saberes e objetos. Partindo de um estudo de caso particular, designadamente o projeto de revitalização da olaria na localidade de Trás di Munti (Tarrafal, ilha de Santiago) procura-se refletir, em primeiro, sobre os propósitos e lógicas inerentes a estas iniciativas, centradas em singularidades territoriais e em aspetos sociais e culturais distintivos. Em segundo pretende-se analisar como estas se encontram ancoradas em paradigmas de autenticidade que tendem a ativar as tensões associadas à oposição modernidade versus tradição, a qual, por sua vez, remete para os debates em torno da caboverdianidade. Neste sentido, propõe-se abordar a complexidade histórica trazida por esta oposição e a forma como configurou diferentes perspetivas e significados sobre práticas, saberes e objetos, atualmente entendidos como património.
Paper short abstract:
O presente trabalho explora a ideia de lugares como campos comunicativos olhando para o modo com que os membros das tabancas cabo-verdianas e das manjuandadis guineenses criam, mobilizam, mantêm e/ou reformulam seus laços com os lugares que as sediam.
Paper long abstract:
Lugares são, antes de tudo, nomes cujos significados fazem mais do que se referir a pontos no espaço físico. Como nomes, lugares são signos duradouros, conformados por temporalidades específicas, que evocam, pela memória ou imaginação, eventos passados e ajudam as pessoas a delinear para si e para o grup a que pertencem futuros possíveis. Ainda como nomes, lugares não são dados mas, antes, construídos. E construir lugares é equivalente a criar tradições, modos de ser e estar no mundo e formas de se relacionar com os outros - ingredients básicos das identidades pessoais e sociais. Lugares não têm necessariamente a concretude que as pessoas usualmente lhes atribuem. Assim, podemos dissociá-los da ideia de senso comum de território físico e alcançar um novo entendimento acerca deles como redes imaginárias conformadas por campos comunicativos cujo alcance é delimitado pelas tecnologias de comunicação disponíveis, por valores culturais e constrangimentos estruturais. O presente trabalho desenvolve estas ideias acerca dos lugares, examinando como os membros das tabancas cabo-verdianas e das manjuandadis guineenses criam, mobilizam, mantêm e/ou reformulam seus laços com os lugares que as sediam.
Paper short abstract:
Este trabalho aborda o processo de patrimonialização das diferenças culturais em Malaca (Malásia Ocidental), durante e após o colonialismo e discute o poder contrapontual da antropologia enquanto contra-discurso reflexivo acerca do grupo dos Portugueses de Malaca.
Paper long abstract:
Partindo de um estudo de caso etnográfico sobre o grupo crioulo de Portugueses de Malaca, (e com enfoque cronológico situado entre 1929-2009), a presente proposta de comunicação problematiza as noções de lugar e herança usados por várias categorias de pessoas - académicos, missionários e políticos - para classificar o grupo
Nesse sentido, o trabalho aborda o processo de patrimonialização das diferenças culturais em Malaca (Malásia Ocidental), durante e após o colonialismo e discute o poder contrapontual da antropologia enquanto contra-discurso reflexivo acerca do grupo dos Portugueses de Malaca.
Paper short abstract:
Ao avaliar as estratégias desenvolvidas para apropriar política, patrimonial e culturalmente Viriato em esferas locais tais como Viseu e Folgosinho, tenciono evidenciar o percurso identitário de comunidades submetidas a realidades e exigências diferentes que partilham uma mesma vontade apropriativa.
Paper long abstract:
Numa perspectiva de ideologia política Viriato foi gradual e cumulativamente apropriado de forma a integrar os valores culturais de Portugal. Desde o século XVI, e através de processos de instrumentalização identitária e ideológica complexos, o herói antigo é assim transformado em referente dos valores do país, sem que para isso seja identificado claramente um espaço especifico que o represente. Só mais tarde, fruto das políticas de valorização ideológica originadas pelo Estado Novo, emergiram em Viseu e em Folgosinho, duas vontades destintas na forma bem que idênticas no fundo, de inscrever o herói antigo a nível local. Se Viriato já havia sido circunscrito à região da Serra da Estrela, dando legitimidade a Folgosinho na sua escolha, difícil de dizer o mesmo relativamente a Viseu.
Esta análise propõem-se tratar de forma comparada dois processos locais de mobilização patrimonial de um herói até aí de cariz nacional. Por intermédio de politicas territoriais de redefinição do espaço urbano, o património material dedicado a Viriato espelha uma variedade de jogos complexos entre memórias identitárias e tradições inventadas. Políticas essas que, ora pioneiras ora mensageiras da comunidade que representam, contrastam nas formas de identificação com o herói. Estátuas, monumentos históricos, escolhas toponímicas de comércios, escolas, espaços urbanos, Viriato apresenta-se como o representante de culturas locais bem distintas que partilham um mesmo fundador atribuindo-lhe lendas diferentes mas nem por isso contraditórias. Fugindo portanto à perspectiva nacional, o herói é assim investido em novos contextos espaciais tornando-o um elemento integro e hereditário da comunidade.
Paper short abstract:
Esta texto baseia-se sobre um trabalho colaborativo com um videasta responsável para um site de divulgação de recolhas musicais portuguesas. Questionamos o poder performativo espacial das imagens, dos discursos e das performances na construção de um arquivo patrimonial da música de Portugal.
Paper long abstract:
Desde janeiro de 2011, um projecto de recolha e de arquivamento da música feita em Portugal hoje em dia, chamado « A música portuguesa a gostar dela própria » e liderado por Tiago Pereira, tem adquirido um papel especial no campo da música portuguesa e da sua patrimonialização. Realizando e disponibilizando 5 videos por semana, o documentarista e videasta Tiago Pereira e a sua equipa de volontariados criam uma imagem específica do mundo da música tradicional e non comercial do país.
Baseado sobre a exploração das imagens, textos e comunicações divulgados no âmbito do projecto, tal como sobre entrevistas com alguns actores do projecto, esta comunicação pretende questionar o poder performativo espacial de um arquivo audiovisual da música portuguesa.
Quais são as relações entre as recolhas de campo, a produção de um arquivo patrimonial e artístico e os lugares ? De qual forma o tratamento das recolhas intervenha na construção dos lugares locais e do lugar do país ? Qual é o papel da antropologia, e nomeadamente da etnografia portuguesa, nas raízes de um tal projecto ? Como é que o próprio Tiago Pereira justifica a sua abordagem relativamente a identidade portuguesa e as diferentes realidades regionais ?