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- Convenors:
-
Maria Claudia Coelho
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Susana Durão (UNICAMP (São Paulo, Brazil))
- Discussant:
-
José Mapril
(Center for Research in Anthropology (CRIA), Universidade Nova de Lisboa)
- Location:
- Sala 2, Ciências Veterinárias (Map 30)
- Start time:
- 11 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Este painel parte da reflexão sobre etnografias da morte, sacrifício, sofrimento e de como em pesquisas contemporâneas são retomados ou desafiados textos e teorias clássicas. Perguntamos que novas abordagens das emoções e da relacionalidade estão em curso na antropologia.
Long Abstract:
Propomos uma reflexão sobre etnografias em torno da morte/morrer, sacrifício/ sacrificar/ser sacrificado, sofrimento/dor. Nesse sentido, é importante saber como reimaginar as teorias antropológicas em torno destas situações-limite e elementos de existência críticos. Gostaríamos de marcar passo relativamente à nossa herança disciplinar. Como é que etnografias hoje -- necessariamente mais translocais, em ambientes politizados e muitas vezes violentos, com abordagens mais em rede do que de comunidade - regressam a temas clássicos da antropologia como a morte, o sacrifício e o sofrimento? Importa assim reflectir sobre como antropologias contemporâneas podem retomar ou desafiar autores clássicos - como 'A Expressão Obrigatória dos Sentimentos', de M. Mauss, e 'Death and the right hand', de R. Hertz - ou obras mais recentes que apresentaram fortes argumentos teóricos sobre estes assuntos, como 'Prey into hunter…' de M. Bloch; 'Illness and irony…' de M. Lambek e P. Antze (org.), 'The illness narratives…' de A. Kleinman. Gostaríamos, desse modo, de imaginar futuros possíveis para teorias da antropologia. Interessa-nos saber como podem etnografias no limite e sobre limiares da existência humana vir a contribuir para inovar o pensamento sobre emoções e relacionalidade em antropologia. Nesse sentido almejamos nutrir uma viva discussão sobre teorias antropológicas das emoções sociais. Convidamos investigadores e estudantes a apresentar resultados das suas pesquisas etnográficas sobre temas e problemas que caibam nas indagações antropológicas aqui traçadas.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Existe uma tradição antropológica de estudo da “construção social da emoção” em relação à morte e rituais funerários. Que ampliações e metáforas imaginar, seguindo o exemplo do que Victor Turner fez com a noção de liminaridade, para as questões da vida, morte e afeto no mundo contemporâneo?
Paper long abstract:
Mauss e Hertz, e mais recentemente Bloch e Parry, entre outros antropólogos, apresentaram-nos estudos comparativos sobre a "construção social da emoção" em relação à morte e aos rituais funerários. Vida e morte são analisadas como parte integrante de um mesmo processo. Mas se em várias sociedades "tradicionais", estudadas pelos antropólogos, a morte é transformada numa dinâmica indispensável para a continuação da vida, essa correspondência tende a não ser tão clara em sociedades ocidentais contemporâneas ou, melhor dizendo, nas grandes cidades do "extremo ocidente" - urbanizadas, capitalizadas, desiguais e movimentadas. A interpretação dos autores é que nesses lugares da modernidade tardia os rituais funerários atenuam o seu papel de "fonte de vida" pois o indivíduo é concebido em termos que o opõem à sociedade; a morte da pessoa não afeta a "grande roda" da cidade. A morte individual não põe em risco a continuidade social. Nesse sentido, que novas concepções e linhas de estudo podemos propor? Que ampliações e metáforas imaginar, seguindo o exemplo do que Victor Turner fez com a noção de liminaridade, para as questões da vida, morte e afeto no mundo contemporâneo?
Paper short abstract:
Folheando narrativas artísticas feitas por/com mulheres com cancro, esta comunicação redefine doença oncológica e cultura material, entendendo os objetos como pedaços de cancro, ou seja, enquanto partes constitutivas das ideias, sensações, emoções e gestos que fazem a experiência do corpo doente.
Paper long abstract:
Através de uma reflexão em torno de objetos e materialidades que ganham forma em projetos artísticos referentes à experiência feminina do cancro, esta comunicação propõe conceitos alternativos de cultura material e doença oncológica. Rejeita-se uma separação/diferenciação entre dimensões materiais e intangíveis na doença, entendendo-se os objetos de cultura material como pedaços de cancro, ou seja, enquanto partes constitutivas das ideias, sensações, emoções e gestos que fazem a experiência do corpo doente. Objetos hospitalares, domésticos e pessoais, de uso coletivo ou individual, onde se incluem materialidades descartáveis, vestuário, mobiliário, equipamentos e máquinas, compõem uma lista de realidades encastradas nas experiências do diagnóstico, internamento, tratamento, reconstrução, remissão, recidiva, metastização e morte. Dando nome a esta continuidade indivisa, proponho os conceitos "objeto-nosoencastrável" e "doença-modular", pretendendo, na forma como defino as coisas, os mesmos encaixes que existem na realidade vivida. Para compreender as ações, usos e sentidos dos objetos que fazem/são pedaços de cancro(s), esta investigação abrangeu as imagens e os textos de cento e cinquenta projetos produzidos por/com mulheres que viveram esta doença. Carregados a Internet, os exercícios criativos, amadores ou profissionais, de fotografia comercial e artística, pintura, desenho, colagem, modelagem, escultura, costura e tricô servem de terreno narrativo e visual, permitindo-nos encontrar a versão émica dos encaixes entre cultura material e doença. Tocar a continuidade entre objetos e cancros, juntando os saberes do corpo, da arte e da antropologia, assenta numa abordagem teórica e metodológica onde ensaio o potencial heurístico daquilo a que chamo a "terceira metade das coisas e do conhecimento".
Paper short abstract:
Este trabalho traz uma revisão bibliográfica sobre o trabalho moral das emoções abordando três sentimentos relacionados ao sofrimento (do sujeito e do outro): o ressentimento (e a memória política); a compaixão (e a demarcação da fronteira nós-outros); e o desprezo (e a dramatização de hierarquias).
Paper long abstract:
A noção de "sentimentos morais" remonta à obra clássica de Adam Smith e diz respeito às formas de relação com o sofrimento alheio, analisadas com base na noção de "simpatia" (sympathy). O desenvolvimento, nas últimas décadas, da sociologia e da antropologia das emoções levou à abertura de um campo de investigação voltado para o exame das dimensões políticas e morais das emoções, retirando-as da esfera do íntimo/privado e voltando a atenção para o trabalho que as emoções realizam na cena pública. Nesta guinada, podem-se destacar trabalhos voltados para as emoções em relação com a violência urbana, o militarismo, os movimentos sociais e as tranformações em regimes políticos, entre outros. Diversas emoções podem ser examinadas sob esta ótica: o medo, a indignação, a coragem, o desprezo, o par orgulho/vergonha, o ressentimento, a compaixão, a humilhação, entre outros, muitas vezes pensados não de forma estanque, como sentimentos isolados, mas sim sob a perspectiva de "complexos" ou "dinâmicas" emocionais. Este "trabalho político" das emoções pode estar ainda associado a diversas outras questões, tais como, por exemplo, a memória política, a demarcação da fronteira nós-outros e as hierarquias sociais. A proposta deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema do "trabalho moral das emoções" com foco na análise de três sentimentos passíveis de serem suscitados pelo sofrimento (do sujeito e do outro): o ressentimento (em sua relação com a memória política); a compaixão (em sua relação com a demarcação da fronteira nós-outros); e o desprezo (em sua capacidade de dramatizar hierarquias sociais).
Paper short abstract:
Propomos refletir sobre dor, sofrimento e morte a partir da “tragédia de Santa Maria”, um incêndio que fez 241 vítimas fatais no sul do Brasil em janeiro de 2013. Entendemos que estamos diante de um “evento crítico” que envolve tanto comunidade como um conjunto de instituições locais.
Paper long abstract:
"Estamos todos devastados, Santa Maria presenciou ontem a maior tragédia de toda a sua história e da história do Rio Grande do Sul e uma das maiores tristezas que o nosso país já viveu..." Assim o Diário de Santa Maria, abriu a edição de 28/01/2013 refrindo-se ao incêndio que vitimou 241 pessoas que se encontravam em uma casa noturna daquela cidade universitária situada no sul do Brasil. Este acontecimento que abalou de forma definitiva as vidas de centenas de familiares, amigos, colegas e moradores da cidade em geral caracteriza-se como um situação-limite, um "evento crítico" ( DAS, 1999 e 2007) cujas implicações se desdobram em dramas pessoais e familiares com repercussões políticas, sociais e econônicas de grandes dimensões. É tendo isso em vista que ao propormos refletir sobre aquela que ficou conhecida como "a tragédia de Santa Maria" recorremos a temas clássicos da antropologia em diálogo com teorias antropológicas contemporâneas das emoções sociais. A pesquisa tem como ponto de partida as notícias veiculadas pela imprensa local e visa refletir sobre a dor, o infortúnio, a morte, a doença, e os recursos utilizados para conviver com estes estados, pressupondo que para tanto é necessário adentrar as camadas das "políticas e economias do sofrimento" que envolvem a um só tempo as "vítimas" e também um numero de instituições, entre elas, o governo municipal, a comunidade, as associações de atingidos, a polícia, o sistema judicial, as medicinas e as religiões.
Paper short abstract:
Esta pesquisa tem como tema a emergência de novos corpos-que-sofrem para além do humano, enfocando esta emergência a partir da profissionalização do bem-estar animal e do abate na pecuária de corte brasileira.
Paper long abstract:
Esta pesquisa tem como tema a transformação profissional do bem-estar animal nos contextos que fazem uso dos mesmos, sendo esta transformação um indicador da construção das categorias de bem-estar e sofrimento animal, interioridade e animalidade. Através de exemplos retirados da pecuária de corte industrial brasileira, o trabalho visa elucidar de que forma a indústria alimentar tem se apropriado dos discursos leigos e científicos sobre subjetividade e sofrimento animal e procurado desenvolver tecnologias de lidar com as mesmas, como o chamado "abate humanitário" e o "manejo racional". Em jogo, o que se coloca aqui é a emergência de novos corpos-que-sofrem para além do humano, o que nos instiga a pensar na dimensão da morte e do sofrimento como uma categoria transversal, sobre a qual incide a empatia interespecífica, por um lado, e o desenvolvimento de saberes destinados a quantificá-la e docilizá-la, de outro. Se, para o caso humano, discussões como as da eutanásia ou dos "limites admissíveis de sofrimento" se chocam de maneira muito evidenciada com princípios morais e legais, no caso dos animais de produção, estas dimensões se apresentam mais fluidas e incertas, já que são entes que oscilam largamente, no interior da nossa ontologia, entre o subjetivo e o reificado, a pessoa e o objeto. Trata-se, portanto, de uma esfera analítica interessante para se pensar o sofrimento em geral, tanto de humanos quanto de não-humanos.
Paper short abstract:
La muerte, para los indígenas nasa de Colombia, llega como un aviso o profecía que revela las formas de vivir en medio de guerras políticas y espirituales sostenidas por décadas. Este trabajo explora, en el ejercicio etnográfico, las relaciones entre muerte y sacrificio en un contexto de violencia.
Paper long abstract:
En la cordillera de los Andes en Colombia, sobre el curso de caudalosos ríos, indígenas pertenecientes al pueblo Nasa han vivido en medio de sucesivas luchas físicas y espirituales producto del conflicto armado que en este país se ha extendido por décadas. En esas guerras los Nasa reconocen la muerte, la identifican en sueños, en mensajes que dejan los espíritus sobre la tierra y el agua, en marcas o señales que se graban en los cuerpos de propios o conocidos, profetizando la partida. Estos anuncios corresponden a una lógica de pensamiento que privilegia las relaciones entre naturaleza y personas, en donde los "mensajes" sacralizan momentos y lugares, ahora transformados en umbrales, que separan y vinculan a los vivos y los muertos. Este trabajo, alimentado por la experiencia etnográfica, busca indagar por las formas en que es narrada y sentida la muerte en un escenario de guerra, contrastando la función de lo que los estudios clásicos sobre el sacrificio denominaron el proceso de la "víctima propiciatoria" con las acciones y explicaciones que sobre la muerte y la espiritualidad propone el pueblo Nasa.
Paper short abstract:
Estudio sobre la repatriación al país de origen por parte de los musulmanes senegaleses que fallecen en Cataluña (España) que permite reflexionar sobre la visión clásica del rito funerario como reconstrucción de vínculos comunitarios ante una muerte lejos de la comunidad que reclama al difunto.
Paper long abstract:
La antropología a menudo ha interpretado los ritos funerarios como una forma de construir y reconstruir los vínculos comunitarios desgarrados por la defunción de uno de sus miembros, afirmando la continuidad del grupo a pesar o gracias a la desaparición de uno de los suyos. Este esquema clásico, sin embargo, se ve ciertamente alterado cuando un individuo muere lejos de aquella comunidad que le reclama como miembro. En el actual escenario dibujado por las migraciones internacionales resulta pertinente preguntarse por la preferencia del lugar de entierro de las personas migrantes y por la repatriación como respuesta a la muerte en contexto migratorio. Una decisión compleja en que intervienen distintas motivaciones: identitarias, religiosas, rituales, emocionales, familiares y comunitarias. Sobre la base de un estudio sobre los ritos funerarios de los musulmanes de origen senegaleses instalados en Cataluña (España) este texto propone una reflexión teórica sobre la repatriación de cadáveres en colectivos migrantes. Propongo que es necesario ir más allá de los debates sobre diversidad religiosa en occidente y situar la reflexión alrededor del concepto de rito funerario, sus interpretaciones clásicas y los desafíos que para estas suponen la construcción de nuevos ritos funerarios trasnacionales.
Paper short abstract:
Afro-Cuban religious traditions overwhelmingly ‘horizontalize’ living-dead relations, bleeding both conceptual and ontological boundaries. In this paper I harness my ethnographic data to explore the ways in which life and vitality are indissociable from the gifts of death and the dead among practitioners.
Paper long abstract:
Ethnographies of dying, death and the dead flaunt the arguably 'Western' notion of death as a punctual affair; rather, it is often portrayed as socially and biologically processual, cosmologically regenerative, precisely through the ruptures and transformations it engenders. Death may be polluting and dangerous, a source of disorder and ambiguity, a threat to the fabric of society, but it is generally seen to be so because it implies transition, growth or life in other forms. But what of ethnographic instances where death is immanent to life, where the living must come to terms not with the dead's transitions from one ontological strata or state to another but with the implication of their ever-presence in the constitution and nurturing of their own selves, in real-time? The Cuban Revolution is no stranger to the reaffirmation of political destinies through the evocation of dead martyrs. But in religious realms this entertwining of biographies is literal. Afro-Cuban religious practices overwhelmingly 'horizontalize' living-dead relations, bleeding both conceptual and ontological boundaries. The priests of the divination cult of Ifá consider themselves 'dead'. In the Bantu-Congo practices of Palo Monte, the dead breathe life into magical recipients and bodies, becoming, in this way, non-dead. And in the pervasive cult of espiritismo the person is imbued with the attributes of his or her dead protectors. In this paper I harness my ethnographic data on Afro-Cuban religion to explore the ways in which life and vitality are indissociable from the gifts of death and the dead.