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- Convenors:
-
Daniel Malet Calvo
(ISCTE-IUL. University Institute of Lisbon)
Giacomo Ferro (FCSH/UNL-ISCTE/IUL)
Isis Martins (Museu Nacional/UFRJ)
- Location:
- A1.10, Reitoria/Geociências (Map 10)
- Start time:
- 11 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Neste painel procuramos aproximar os contextos e identidades locais, dos fenómenos e trajectórias transnacionais, através da apresentação de etnografias e contributos teóricos sobre fenómenos de mobilidade individual e colectiva.
Long Abstract:
A cidade, como contexto de agrupamento humano, foi sempre considerada pela antropologia como um terreno de estudo privilegiado para a observação das dinâmicas da mobilidade: Desde os estudos pioneiros centrados em "comunidades" migradas dentro das cidades até o seu alargamento primeiro para as dinâmicas móveis próprias da metrópole, e depois para a consideração da cidade como um encrave transnacional com conexões e transações globais.
Assim, a tensão entre territorializações identitárias e trajectórias de mobilidade já foi apresentada como una contraposição irresolúvel entre grupos humanos, como etapas dum processo de integração dos actores sociais num contexto novo, ou até como aspectos de sociabilidade estratégica dum mesmo grupo humano.
Sempre no centro da discussão sobre o urbano, esta negociação entre as trajectórias e as identidades (sejam individuais ou coletivas) é um elemento fulcral para compreender a sociabilidade urbana, as apropriações coletivas, os processos de transformação da cidade, e a produção tanto das comunidades como dos lugares que constituem o espaço das cidades transnacionais.
Esperamos receber contribuições etnográficas e teóricas para ilustrar esta negociação constitutiva da cidade, trabalhos moldados simultaneamente pela atenção sobre marcos relacionais locais em contextos urbanos particulares, e pelo trabalho constante da complexidade das dinâmicas transnacionais próprias da globalização capitalista sobre a cidade.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
O presente trabalho parte de uma análise etnográfica na cidade de São Paulo, Brasil, para compreender por quais meios a cidade e suas centralidades são produzidas tomando-se em conta uma definição de identidade sexual genericamente assumida no termo “gay”.
Paper long abstract:
Sexualidades produzindo cidades; cidades legitimando espaços para identidades sexuais. O presente trabalho, fruto de etnografia que coteja dados micro e macrossociais, analisa a constituição de espacialidades legitimadoras de determinadas expressões de sexualidade na cidade de São Paulo, assim como produzidas por esses mesmos índices de sexualidade. Tomando como base duas regiões da metrópole, República e Paulista, evidencia-se o processo relacional e transitório de fixações no espaço urbano que estipulam lugares de legitimidade de determinadas expressões de sexualidade, tendo-se a definição genérica de "gay" como centro. Tal termo, carregado de significações de classe, status e localidade de origem, serve como meio para compreensão do processo pelo qual ganha centralidade e produz centralidades na cidade: a "rua gay" passa a estar no Centro da cidade, produzir o Centro da cidade, mesmo estando na Paulista, um pouco mais distante da República, mais próxima ao Centro oficial. Além disso, a ideia de uma espacialidade "gay" traz à tona a conformação de um bairro, ou uma região, como identificada sexualmente, aproximando-a de realidades diversas, como o Marais parisiense, o Castro de São Francisco ou a Chueca madrilena. Estar num ou noutro lugar pode ser um meio de inteligibilizar a cidade e a sexualidade de si e de outrem, produzindo oposições entre maior pertença a um entendimento de "gay", por exemplo, ou de "bicha", no caso brasileiro, colocando este termo numa posição de "periferia" em relação ao outro. Além dos trânsitos na cidade, produtores de diferenciações e hierarquias, o espaço "gay" permite trânsitos semânticos internacionalmente compreendidos.
Paper short abstract:
Apesar das múltiplas abordagens científicas, sociais e políticas já realizadas sobre a Cova da Moura, e dos esforços de abertura para o exterior, este bairro permanece desconhecido do grande público e o risco de expulsão, de exclusão e de violência persiste.
Paper long abstract:
A Cova da Moura é um dos maiores bairros de concentração de população imigrante. É um espaço Outro, autoconstruído e multiétnico, com um forte e interventivo tecido associativo, o que tem feito recair sobre ele múltiplos olhares, atraídos pelas suas dinâmicas sociais, económicas e culturais, que têm resultado numa extensa produção de conhecimento científico e técnico. Este trata-se de um terreno mediatizado, alvo de discursos que oscilam entre o estigmatizante e o reabilitante e, ultimamente, até um terreno turístico, tendo-se apostado em visitas guiadas pelo bairro como forma de reforçar a sua abertura ao exterior e legitimar a sua existência. É, também, um dos polos de um movimento negro. Pese embora as políticas públicas de integração e os projectos com vista à qualificação social e espacial, este bairro permanece em risco: em risco de expulsão, enquanto persiste o problema da propriedade dos terrenos em que o bairro foi construido; em risco de exclusão, por se tratar de uma população imigrante, precária e, em parte, irregular; em risco de violência, devido ao policiamente normalmente repressivo. Em contexto de crise, estes factores de risco agudizam-se.
Paper short abstract:
Este trabalho procura reflectir sobre as imagens da cidade através do cruzamento dos conceitos de alimentação e identidade migrante.
Paper long abstract:
Com base na pesquisa que desenvolvo para o meu doutoramento, procuro reflectir sobre as imagens da cidade através do cruzamento dos conceitos de alimentação e identidade migrante.
Nesse sentido, proponho um olhar sobre as comunidades cabo-verdianas que residem na região de Lisboa, identificando os diferentes territórios da alimentação (domésticos/públicos), práticas de consumo e ritmos (quotidianos, fins-de-semana, festivos) que giram em torno destes.
A alimentação é, a par de outras manifestações culturais, um dos pilares da estruturação da identidade. Logo, comer não deve ser visto como uma mera prática de nutrição biológica, uma vez que a conservação ou extinção de determinados hábitos alimentares trazidos da origem acarretam cargas simbólicas e culturais importantes para a leitura das identidades migrantes, devendo ser interpretadas como mecanismos identitários e culturais através dos quais se perpetuam memórias, se constroem narrativas e se (re)criam hábitos que viajaram desde a origem. A nostalgia dos sabores da terra, dos sabores tradicionais, da infância/juventude (cf. Danziger, 1992) prevalecem em muitos discursos, traduzidos, não raras vezes na noção de "kumida di téra".
Será pertinente, por isso, atentar nos hábitos alimentares que viajaram com o migrante e que continuam a ser valorizados (cf. Kaplan e Carrasco, 1999), mesmo quando existe o reconhecimento de novos hábitos e duma adaptação a práticas alimentares ditas portuguesas.
Paper short abstract:
Esta comunicação nasce de uma estada de terreno no Bairro da Malagueira de Siza Vieira onde a par da destruição sistemática do bairro por abandono dos poderes públicos se procede simultaneamente à requalificação de outras áreas do mesmo bairro por iniciativas individuais privadas.
Paper long abstract:
Recentemente Frúgoli Jr. (2013) teceu algumas críticas aos estudos sobre gentrification por se debruçarem exclusivamente sobre o conflito capital imobiliário e poderes públicos contra os interesses das classes populares que se vêem, tradicionalmente, segregadas das áreas requalificadas. Isto corresponde exactamente à realidade com que nos defrontámos no nosso trabalho de campo (11 meses, residência in situ) no bairro social desenhado por Siza Vieira no pós 25 de Abril na Malagueira/Évora.
O Bairro é estudado nas Faculdades de Arquitectura do Mundo inteiro e desprezado em Portugal pelos poderes públicos pelo desinteresse a que o votam, neste momento existem 27 fogos emparedados (de 1200, casas unifamiliares, duplex, com pátio) atribuindo-se a responsabilidade ao tráfico de droga pela comunidade cigana, que levou à degradação da área social e arquitectonicamente.
Por outro lado existe um movimento de requalificação espontâneo criado através da compra de casas em todas as áreas da Malagueira por grupos socioprofissionais mais escolarizados, mas não exclusivamente, nas áreas ditas "sociais" muitos são os compradores das classes populares ou que o desejam fazer. E aí parecem despontar dois movimentos até aqui desconhecidos - por um lado uma gentrification não-planificada e por outro um movimento que cruza as práticas entre vários grupos sociais rompendo com a segregação residencial e que remete para o conceito omnivorousness desenvolvido por Alan Warde (2007). Mas também aqui rompendo com o comum porque este confronto às práticas de prestígio (snobbery), contra o estigma e o preconceito é interclassista e não exclusivamente dos grupos de maior estatuto social.
Paper short abstract:
Procuraremos discutir as acções de produção quotidiana do espaço nos aglomerados urbanos informais e as performances de produção espacial dos habitantes-construtores, possibilitando uma investigação que exponha os processos pelos quais essas acções têm criado espaços urbanos complexos e funcionais.
Paper long abstract:
A "informalidade urbana" (ROY & ALSAYYAD 2004) de hoje processa-se a uma escala planetária e no contexto de uma economia global. As grandes estruturas urbanas de carácter informal que crescem agarradas às urbes do mundo "desenvolvido" são também cidades da globalização, que apresentam formas alternativas de gestão do espaço urbano que devem ser compreendidas e estudadas.
Estas "outras" formas urbanas longe de serem uma "expressão do caos", são formas particulares de "invenção da cidade" (AGIER 1998) que pretendem responder à ausência de intervenção do estado enquanto mediador entre o habitante e o construtor/utilizador do espaço.
Tendo como contexto essas cidades "informais" procuraremos discutir as acções de produção quotidiana do espaço em actuação no processo contínuo de formação e crescimento dessas estruturas, nomeadamente, as performances de produção espacial dos seus habitantes, e abrir caminho para uma investigação que exponha os processos pelos quais essas acções geram espaços complexos e funcionais, sem recurso a planeamento.
A observação destes processos informais de produção de espaço pode revelar os mecanismos das diferentes performances em actuação, permitindo a identificação e compreensão das competências "construtivas" dos sujeitos da produção espacial.
Sugerimos que os espaços que assim são produzidos constituem narrativas espaciais dessas acções, incorporadas (embodied) no texto/tecido da cidade, e propomos que estas narrativas podem constituir uma chave cognitiva para a decifração/leitura desses espaços complexos e multivocais.
Com este trabalho, procurar-se-á também propor uma mudança da perspectiva das questões relacionadas com formalidade/informalidade, legitimidade/ilegalidade, "espontaneidade"/planeamento, para as da funcionalidade, reconhecimento, complexidade, saber e competência espacial.
Paper short abstract:
O objetivo deste artigo é compreender acerca dos mecanismos locais de apropriação do espaço público realizado pelos sócios do “Esporte Clube de Malha Patriarca de Madureira”, contribuindo com entendimentos sobre os processos de construção e ocupação dos espaços de lazer na cidade do Rio de Janeiro.
Paper long abstract:
Hodiernamente a cidade do Rio de Janeiro vive um momento de grandes modificações na sua paisagem urbana, alavancadas principalmente pelos megaeventos que a mesma vai sediar entre os anos de 2013 - 2016. Por conta disto, as mudanças em várias partes da cidade estão sendo pensadas a partir do ponto de vista do "capital", do "mercado", negligenciando muitas vezes, ou na maioria delas, a "fala" das populações que ocupam muitos desses espaços, principalmente no debate sobre o uso e usufruto dos mesmos. Entretanto, dentro de toda esta dinâmica urbana, há atores sociais que, de uma maneira ou de outra, conseguem fazer arranjos e/ou rearranjos, utilizando-se de múltiplas formas de uso do espaço público, especialmente os de lazer. Sendo assim, desconfio que o "Esporte Clube de Malha Patriarca de Madureira" (um grupo de sócios contribuintes e sócios jogadores em torno de um jogo de malha) que acontece na Praça do Patriarca, bairro de Madureira, cidade do Rio de Janeiro, encontra-se neste caso da apropriação e uso do espaço urbano. O objetivo deste artigo é compreender acerca dos mecanismos locais de apropriação do espaço público realizado pelos sócios do Clube de malha, contribuindo com entendimentos sobre os processos de construção e ocupação dos espaços de lazer na cidade do Rio de Janeiro. Para tal, este estudo apóia-se em um método etnográfico com a intenção de realizar um olhar de perto e de dentro, a fim de descrever e refletir sobre aspectos que permitem a devida atenção aos detalhes durante o trabalho de campo.
Paper short abstract:
O paper pretende explorar a dinâmica social numa vila militar do Exército brasileiro. A vila é um espaço de moradia para famílias de militares que segue prescrições e normas do Exército. Mostra-se uma sociabilidade específica entre famílias e instituição militar e a ideia de mobilização pelo país
Paper long abstract:
A proposta da comunicação é explorar a dinâmica social numa vila militar do Exército brasileiro. As vilas militares são espaços de moradia para famílias de militares e são denominadas PNRs (Próprio Nacional Residencial). O nome revela a ideia que os militares atribuem à moradia e Brasil, visto que uma das metas da profissão militar é a "vivência nacional" - circular por várias regiões do país a fim de conhecer e saber pelo que estão "lutando". Nessas mobilidades (ocorridas a cada dois ou três anos), os militares e suas famílias circulam pelas moradias militares padronizadas, que tanto física quando normativamente, seguem uma estrutura. Assim, a circulação por essas PNRs e pelo Brasil produz a ideia de que a casa é o Brasil, da mesma forma que também estabelece que em qualquer lugar do país pode-se encontrar a "Família Militar". A "Família Militar" é um termo nativo que compreende famílias que compartilham as mesmas experiências e acabam reconhecendo seus vizinhos (também militares) como parentes circunstanciais, de quem se poderá procurar apoio no dia-a-dia. Essa ideia reflete características encontradas no quartel (espírito de união e camaradagem) e, num sentido mais geral, abrange o Exército como um todo, procurando estabelecer uma forte identidade do grupo. A vila segue a prerrogativa militar: os "bairros" são divididos hierarquicamente e quanto mais alta a patente, maior e mais aconchegante é a moradia. Essa disposição revela mecanismos de sociabilidade específicos entre instituição militar e famílias, configurando uma rede de tramas, controle e solidariedade entre os familiares nesse meio.