Click the star to add/remove an item to/from your individual schedule.
You need to be logged in to avail of this functionality.
Log in
- Convenor:
-
Pedro Pereira Leite
(Universidade Lusófona)
- Discussant:
-
Ana Fantasia
(ISCTE)
- Location:
- A1.11, Reitoria/Geociências (Map 10)
- Start time:
- 9 September, 2013 at
Time zone: Europe/Lisbon
- Session slots:
- 3
Short Abstract:
Resultados das investigações com recurso de metodologias de investigação-acção no campo dos estudos sobre a memória e esquecimento.
Long Abstract:
A fenomenologia da memória e do esquecimento tem vindo a ganhar relevância no campo das metodologias qualitativas de investigação ação. As questões colocadas aos indivíduos sobre o que é rememorado levantam a necessidade de resolver a questão sobre a quem pertence essa memória. A relevância (lembrança) associada ao seu valor (posse) é assim considerada como atributos de significação de configurações sociais em processo.
O empirismo lógico obriga à referenciação dos fenómenos no campo da hiper categoria espaço/tempo. Dessa forma todas as lembranças ganham relevância como pertença e um espaço (comunidade e território) e a um tempo (tradicional ou de modernidade). Em todos os fenómenos estudados é então capturada uma imagem que é inserida num quadro de significações preestabelecido que se justifica a si mesmo.
O recurso às narrativas biográficas como metodologia de investigação com base no empirismo lógico permite comprovar que a apropriação das narrativas de vida pelo discurso científico em função das necessidades de investigação geram redundância. No seu resultado final apenas comprovam os objetivos da investigação e uma reprodução das narrativas hegemónicas.
A abordagem das narrativas biográficas a partir do empirismo critico procura captar a consciência de algo revelada pela rememoração como um reflexo.
Accepted papers:
Session 1Paper short abstract:
Estudo da memória e o processo psíquico Nachträglichkeit de Freud, na análise dos limites entre a lembrança e o esquecimento na produção artística de Frans Krajcberg (Polônia, 1921) com base em seus aspectos biográficos que revelam um deslocamento geográfico e identitário.
Paper long abstract:
Frans Krajcberg (Polônia, 1921) tem seu trabalho reconhecido como uma arte ambiental engajada e combatente às queimadas nas florestas brasileiras mediante ação humana. Porém, quando buscamos suas narrativas biográficas encontramos aspectos que revelam maior profundidade acerca de sua história: tornou-se oficial do exército polaco entre 1941 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, onde perdeu toda sua família incinerada. Em 1948 mudou-se para o Brasil, isolou-se de todos, morando numa casa na floresta. Há aqui um deslocamento geográfico e identitário, sua família passou a ser a natureza e, quando viu esta ser queimada, começou a defendê-la. Aqui, os limites e a ética da representação apontam para a dupla dimensão da catástrofe da natureza e a transposição da catástrofe da guerra para o ambiente enquanto forma adequada do lembrar-esquecer, fazendo da natureza um teor de fantasmagoria e uma força de atualização do passado traumático da história individual e coletiva do século XX e suas guerras. A arte testemunhal seria uma forma de memória do trauma reunindo e unificando humanidade e natureza, na sua experiência histórica. Com base nos estudos contemporâneos sobre a memória e sobre o processo psíquico Nachträglichkeit de Freud, veremos como esse artista revela os limites entre a lembrança e o esquecimento, um desfasamento dos tempos passado-presente-futuro, e nos apresenta como um "contemporâneo", nos termos de Giorgio Agamben. Será refletido sobre como se dá o processo criativo que trabalha com memórias episódicas traumáticas, social e individualmente onde o artista esquece para lembrar e lembra para esquecer e exorcizar.
Paper short abstract:
Retomo o debate sobre o rompimento do silêncio sobre gênero, "cor" ou "raça" em diferentes domínios sociais, privilegiando o papel da memória e da biografia de mulheres engajadas no trabalho doméstico transnacional.
Paper long abstract:
Neste paper procuro discutir a relevância de se adotar a literatura memorialista e biográfica como uma narrativa etnográfica. Inicialmente recorrerei aos textos de Carolina Maria de Jesus (escritora profissional "negra", ex-empregada doméstica e ex-coletora de papel), Francisca Souza da Silva (empregada doméstica "negra" que escreveu um único livro de memórias) e de Baby Halder (doméstica indiana, nascida em Kashmir, vivendo hoje em Nova Delhi).
Trata-se de uma reflexão envolvendo narrativas sobre experiências, sociabilidades e percepções acerca do mundo do trabalho doméstico, recortado pelo viés de gênero e raça. Memórias, "trajetórias", "relatos", "histórias de vida", "testemunhos", "biografias" e "autobiografias" e romances compõem a documentação através da qual retomo aportes teóricos e metodológicos relacionados à construção de diferentes trabalhos de memória, envolvendo protagonismo, agência e experiência social de certos tipos de atores sociais. Vale lembrar que as reflexões incidirão, entretanto, não apenas sobre leituras historiográficas e antropológicas, mas sobre estudos voltados para o uso de instrumentais forjados em outros campos de conhecimento (literatura e crítica literária, por exemplo).
Paper short abstract:
Este trabalho discute as narrativas de memorialistas a respeito de Antonio Ferreira Cesarino (1808-1892), negro liberto que viveu na cidade de Campinas, Brasil, ao longo do século XIX. Cesarino aparece nas narrativas justamente porque mantinha ligações com pessoas da elite local.
Paper long abstract:
Este trabalho examina as narrativas escritas por alguns memorialistas e jornalistas a respeito de Antonio Ferreira Cesarino (1808-1892), negro liberto que ascendeu socialmente na cidade de Campinas, interior paulista, Brasil. A trajetória de Cesarino expõe alguns traços pertinentes da relação desse homem com a sociedade em que vivia e as disposições presentes nesse campo. Parece relevante sublinhar que Cesarino mantinha ligações com pessoas da elite local; que aparece nas narrativas dos memorialistas justamente porque mantinha essas ligações; e que a maneira como aparece nas narrativas exprime bem o tipo de abordagem que orientava essa elite. Assim, faz-se necessário reconhecer a dimensão simbólica que está em cada crônica, em cada destaque ou em cada lacuna, posto que, muitas vezes, os elementos necessários ao entendimento de determinados sujeitos surgem não só da análise do que é dito no conjunto dos relatos, mas também daquilo que não foi dito.
Paper short abstract:
Busco provocar cruzamentos entre uma narrativa biográfica na qual um narrador uruguaio entrelaça memórias familiares e reflexões sobre sua cultura, com a narrativa de uma pesquisadora que procura revisitar um campo teórico, refletindo sobre as possibilidades de contar histórias na antropologia.
Paper long abstract:
Esta comunicação busca provocar cruzamentos entre uma narrativa oral biográfica na qual o narrador entrelaça memórias familiares e reflexões sobre seu país e sua cultura, com a narrativa de uma pesquisadora que procura revisitar um determinado campo teórico, refletindo, por sua vez, sobre as infinitas, criativas e instigantes possibilidades de contar histórias/criar narrativas etnográficas na antropologia. Esse diálogo entre distintas formas narrativas é experimentado, no texto, pela justaposição da narrativa biográfica de Tomazito (o narrador) com as inferências da pesquisadora. O exercício de "etnografar uma biografia" inicia por uma breve discussão das diferentes terminologias utilizadas para definir as narrativas pessoais. Na sequência debato os métodos utilizados na pesquisa de campo para o registro das narrativas e o posterior processo de transcrição e análise destas, enfatizando a abordagem das narrativas orais desde a sua inserção na vida cotidiana dos contadores, em sua relação com os processos de construção de memória e esquecimento. Os narradores com os quais venho desenvolvendo uma longa trajetória de pesquisa são habitantes da zona rural da fronteira entre Argentina, Brasil e Uruguai, em sua maioria idosos, que mostram-se hábeis em contar e recontar suas histórias, transformando a experiência vivida ou recebida de outrem em narrativa. Em suas histórias de vida, memórias, atitudes, éticas, posturas, subjetividades, regras sociais, vêm à tona. Colocadas em gestos e palavras, são compartilhadas e "afetadas" pela audiência.
Paper short abstract:
Através da técnica photo elicitation, usei a fotografia como meio de representação de percursos biográficos de antigos combatentes da guerra de libertação/colonial na Guiné-Bissau. Esta etnografia visual permitiu a emergência de memórias que questionam as grandes abstrações históricas.
Paper long abstract:
Pressupondo que cada fotografia é uma memória que revela uma história, propus me a registar que memórias transportam, como são organizadas, escondidas ou reveladas enquanto objetos representativos da guerra. Baseada em autores como Walter Benjamin e Roland Barthes, encarei a fotografia como um elemento capaz de desconstruir os conceitos de memória e história. Se das fotografias dos antigos combatentes do PAIGC emergem as fotografias "românticas" da guerra de guerrilha e das missões diplomáticas no Bloco de Leste, das entrevistas realizadas através da técnica de photo elicitation, resultaram silêncios, tensões e até uma relação de perda, negligência e esquecimento face a estes objetos.
Por sua vez, grande parte dos antigos combatentes do exército colonial entrevistados, haviam destruíram as suas fotografias, dado que constituíam testemunhos incriminatórios da sua participação na guerra. Aqueles que as esconderam, guardam-nas hoje na esperança que estas lhes sirvam de prova nas reivindicações dos seus direitos ao Estado Português.
Tendo como premissa que não há apenas um só e "verdadeiro" discurso sobre a memória, mas sim que há memórias que se tentam anular face às grandes escolhas de cada época (Rosas, 2009:13), a minha proposta consiste em colocar na mesma linha de montagem histórica (Benjamim) as memórias destes dois grupos. Por focar arquivos pessoais, esta investigação insere-se num campo historiográfico, que procura que fontes não usuais ganhem visibilidade numa explícita variedade de representar a história.
Paper short abstract:
O artigo propõe discutir a narrativa testemunhal em relatos jornalísticos que se insurgem pelo viés da subjetividade e dos afetos. Entendendo o testemunho como uma construção de linguagem, analisamos narrativas onde biografia e experiência se confundem com o relato dos fatos.
Paper long abstract:
Da antropologia ao direito, o conceito de testemunho tem servido de base para uma reflexão sobre as questões da memória, da ética e da linguagem. É nesse contexto que este artigo se insere, como parte de uma pesquisa que lança um olhar sobre narrativas de teor testemunhal na comunicação em diálogo com outros campos do conhecimento.
De um modo geral, o testemunho é associado a um tipo de discurso relacionado aos "sobreviventes", indivíduos ou grupos sociais que viveram situações de choque e necessitaram de espaço para narrar o trauma. Mas há ainda o sentido de testemunha como aquele que se coloca como um terceiro, entre duas partes. Desse modo, testemunha também seria aquele que "não vai embora", que consegue ouvir a "narração insuportável" do outro e que aceita que suas palavras revezam a história do outro. (GAGNEBIN, 2004).
Este artigo propõe uma discussão em torno da biografia e da narrativa testemunhal em relatos jornalísticos que se insurgem pelo viés da subjetividade e dos afetos, contrariando a lógica de uma imprensa hegemônica pautada pela objetividade. Toma como ponto de partida o trabalho da jornalista brasileira Eliane Brum em narrativas onde a biografia da autora e sua própria experiência se confundem com o relato dos fatos.
O artigo dialoga ainda com Giorgio Agamben, para quem a possibilidade de narrar carrega a potência do que não é narrável. Sendo assim, o testemunho seria uma construção de linguagem que se configura na tensão entre o que se pode dizer e aquilo que é dito.
Paper short abstract:
Propõe a construção de um texto dialógico e polifônico, que entrecruza experiências narradas por professores indígenas e interpretação das pesquisadoras, realçando que a colaboração intercultural com outros modos de produção de conhecimento é também imprescindível no momento da escrita.
Paper long abstract:
O trabalho de coletar e analisar narrativas nos levou atualmente a refletir sobre modos alternativos de apresentá-las no momento de sua textualização. A riqueza das reflexões e categorias apresentadas pelos sujeitos de uma pesquisa que busca compreender as repercussões da formação intercultural na vida de professores/as indígenas suscitou o desejo de construir novos modelos de escrita etnográfica, capazes de equilibrar as vozes dos sujeitos entrevistados com as vozes das pesquisadoras. Nesta pesquisa, foram entrevistados/as professores/as indígenas que participaram do curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI), oferecido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio do instrumento da entrevista narrativa e observação participação nas aldeias e nas escolas em que atuam. A proposta é apresentar um texto que resulte de uma mútua construção, entrecruzando interpretações "nativas" e "estrangeiras", no qual os "autores" indígenas são citados extensa e regularmente, expondo suas vozes por meio de muitas citações textuais, porém, que também reconhece o papel criativo e inventivo das pesquisadoras. Trata-se de colocar em interlocução experiências narradas e interpretação, em um processo de textualização aberto ao diálogo e à polifonia, que distingue as contribuições das pesquisadoras e dos/as professores/as indígenas entrevistados/as por tipos de letra diferentes. Dessa forma, propõe uma produção colaborativa do conhecimento que pretende contribuir para aprofundar o diálogo da academia com outros tipos de saberes e modos de produção do conhecimento em torno do tema da formação intercultural, como também para o registro das memórias coletivas e os projetos de futuro das comunidades étnicas pesquisadas.