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Accepted Paper:

Memórias de um outro Alentejo: visões da comunidade e da propriedade rural do Sul durante o Estado Novo  
Ricardo Gomes Moreira (Institute for Social Sciences, University of Lisbon)

Paper short abstract:

Abordamos aqui a propriedade rural do Sul durante o Estado Novo, a partir do caso de uma sociedade agrícola familiar que imprimiu formas de apropriação e uso da terra capazes de transformar a feição do povoamento e de instituir laços de pertença e de identidade hoje inscritos na memória colectiva.

Paper long abstract:

Em 1971 José Cutileiro apresentava o Alentejo como uma sociedade rural profundamente hierarquizada, num regime de posse de terra no qual o potencial produtivo se encontrava nas mãos de um grupo muito restrito de grandes proprietários, muitos deles vivendo fora da região. A grande massa populacional era composta por trabalhadores sem terra nem meios de produção, vivendo precariamente na dependência política de proprietários e lavradores, e sob a alçada do sistema de patrocinato, que complementava a parca assistência pública através das trocas de favores e de formas de protecção social ancoradas no apadrinhamento.

Uma etnografia recentemente desenvolvida na região do Redondo permite rever este modelo com base num conjunto de narrativas pessoais e familiares, que dão conta do modo como a terra e o trabalho eram aí vividos na primeira metade do século XX, e de como trabalhadores e proprietários produziram uma economia local com base na exploração colectiva. A identidade de "linhagem" fortemente associada à terra e ao trabalho, o papel das sociedades familiares e a importância local dos arrendamentos, explicam como a tecnologia agrícola tradicional e as formas locais do trabalho se associaram à política agrária do Estado Novo para criarem um regime de propriedade, pertença e exploração com profundo impacto económico e demográfico.

Apesar de reflectirem o contraste entre a actualidade e uma época de juventude já distante, as narrativas de nostalgia dos mais velhos habitantes locais não deixam de traduzir uma memória de esperança e prosperidade colectiva, bem diferente da sombria sociedade rural de Cutileiro.

Panel P43
Territorialidade, propriedade e posse da terra
  Session 1