Paper short abstract:

Este artigo investiga a história do uso das categorias de raça, etnia e nação, e sua inter-relação, no contexto do nacionalismo angolano das décadas de 1960 a 1980, através da trajetória dos intelectuais envolvidos no Centro de Estudos Angolanos fundado em Argel em 1964.

Paper long abstract:

Este artigo parte da trajetória de um pequeno grupo de jovens reunidos em torno do Centro de Estudos Angolanos, criado em Argel, em 1964, para investigar as relações entre os esforços simbólicos de construção nacional e outras categorias de identificação coletiva, em especial etnia e raça, historicamente associadas à produção de saberes sobre o continente africano.

O CEA compunha-se de jovens brancos e mestiços, com formação liceal ou universitária, cuja possibilidade de participação na luta de libertação nacional (e na própria nação) foi sempre mediada pela raça, no quadro da disputa entre diversas organizações nacionalistas rivais por legitimidade dentro e fora das fronteiras coloniais. Impedidos de chegar imediatamente às fronteiras onde a guerra de guerrilha se travava, esses jovens empenharam-se em uma "frente ideológica" da luta anticolonial, coletando e sistematizando todo tipo de informações sobre Angola, e esforçando-se por produzir e publicar materiais que revalorizassem e reinterpretassem o passado e os elementos culturais presentes no território - um esforço para o qual a etnia teve sempre um papel fundamental.

Ao acompanhar as trajetórias desses jovens desde seu ingresso na agitação nacionalista até sua chegada a Angola às vésperas da independência, sempre como um prisma por meio do qual analisar os usos práticos múltiplos das categorias de raça, etnia e nação, este artigo pretende contribuir para relativizar certos consensos da história recente de Angola, implicados pelo paradigma da "retomada da iniciativa" e por uma prevalência de classificações associadas a uma dicotomia moderno-tradicional.